Estudo conclui que ambiente pode moldar predisposição das crianças quanto ao apetite

20 de Janeiro 2022

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram que apesar de a genética influenciar “bastante” os comportamentos alimentares das crianças, o ambiente em que se inserem pode moldar a sua predisposição quanto ao apetite.

A investigação, publicada na revista ‘Eating and Weight Disorders – Studies on Anorexia, Bulimia and Obesity’, pretendia avaliar de que forma a genética e o ambiente influenciavam a variabilidade dos comportamentos alimentares das crianças.

Em declarações à Lusa, a primeira autora do estudo, Sarah Warkentin, afirmou que, apesar de vários estudos no Reino Unido avaliarem essa influência, em Portugal “não havia nenhum que fizesse essa análise”.

Para compreender os fatores que influenciavam a variabilidade dos comportamentos alimentares das crianças, os investigadores analisaram 86 pares de gémeos, com 10 anos, da ‘coorte’ Geração XXI (um estudo longitudinal do ISPUP que, desde 2005, segue participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto).

“Os gémeos são uma experiência natural porque temos os gémeos idênticos, em que 100% da sua genética é compartilhada, e os não idênticos, em que 50% da genética é partilhada. Por meio de análises estatísticas conseguimos estimar o que é influenciado pela genética e pelo ambiente”, esclareceu.

Através de um questionário preenchido pelos pais, os investigadores avaliaram oito comportamentos relacionados com a alimentação, nomeadamente, o prazer em comer, a resposta à comida, o desejo por bebidas, a sobre-ingestão emocional, a resposta à saciedade, a ingestão lenta, a seletividade alimentar e a sub-ingestão emocional.

“Vimos que a genética tem uma grande influência em todos os comportamentos alimentares à exceção da sub-ingestão emocional, que parece ser mais afetada pelo ambiente”, afirmou Sarah Warkentin, acrescentando que, apesar da influência genética, “o ambiente em que as crianças se inserem também é muito importante”.

“O ambiente consegue moldar a predisposição nos comportamentos alimentares”, observou.

Segundo Sarah Warkentin, os resultados do estudo apontam para a necessidade de se “apostar em intervenções que trabalhem a família como um todo”, seja aumentando a disponibilidade de alimentos saudáveis, seja utilizando estratégias como exposição constante a fruta e hortícolas.

A par do ambiente familiar, a investigadora destacou ainda que o ambiente escolar deve “ser promotor de saúde e ensinar sobre alimentação para que a predisposição genética das crianças possa ser moldada”.

O estudo, intitulado ‘Genetic and environmental contributions to variations on appetitive traits at 10 years of age: a twin study within the Generation XXI birth cohort’ e coordenado pela investigadora Andreia Oliveira, foi financiado pelo programa FEDER e pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia (FCT).

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Pai e filha morrem em acidente de viação em Angola

Dois cidadãos portugueses – pai e filha – morreram hoje num acidente de viação na estrada de Sumbe para Luanda, em Angola, de que também resultaram dois feridos, avançou à Lusa fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Recurso de Salgado por Alzheimer recusado no TC

O Tribunal Constitucional rejeitou apreciar o recurso de Ricardo Salgado, que alegava inconstitucionalidade na condenação a oito anos de prisão devido ao diagnóstico de Alzheimer, mantendo a decisão da Operação Marquês e agravando as custas.

Fecundidade em Angola caiu e mulheres têm em média 4,8 filhos

A taxa de fecundidade em Angola caiu de 6,2 para 4,8 filhos por mulher em oito anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano hoje divulgados. Entre 2015-2016 e 2023-2024, a fecundidade diminuiu em Angola de 6,2 para 4,8 filhos por mulher, segundo o Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2023-2024, tornado hoje público pelo INE.

Novo modelo agiliza controlo da dor severa no Alto Ave

A Unidade Local de Saúde do Alto Ave criou a Via Verde da Dor Aguda, um projeto inovador que integra resposta hospitalar e domiciliária para doentes com dor mal controlada, promovendo conforto, segurança e qualidade de vida.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights