Despesa do IPO de Lisboa com medicamentos aumentou 50% em três anos

3 de Fevereiro 2022

A despesa do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa com medicamentos aumentou 50% nos últimos três anos, representando atualmente cerca de dois terços dos gastos da instituição.

“Podemos dizer que gastamos dois terços em medicamentos e, se calhar, os medicamentos não têm dois terços da importância no tratamento do cancro, nomeadamente nos tumores não hematológicos, que é essencialmente cirúrgico”, observou.

O médico oncologista salientou que a cirurgia é o tratamento e até a cura da maior parte dos cancros, mas admitiu que esta despesa com medicamentos “é inevitável” e que “não é um problema específico do IPO de Lisboa, não é um problema específico de Portugal, mas é um problema”.

Analisando a evolução da despesa com medicamentos nos últimos três anos, precisou que, em 2019, foi de 46 milhões de euros, em 2020 aumentou para 53 milhões e no ano passado a estimativa aponta para um valor acima de 66 milhões.

Sobre as razões deste aumento, afirmou: “O número de doentes tratados não aumentou, o que aumentou foi o número de medicamentos que é aplicado a cada doente e aumentou sobretudo o preço unitário dos medicamentos”.

“Não há nenhum medicamento que venha mais barato do que o anterior e, muitas vezes, medicamentos que se tornam mais baratos, porque já são mais antigos, são substituídos sempre por medicamentos mais novos e mais caros, às vezes, sem um acréscimo correspondente de benefício”, sustentou.

Mas, disse, “é assim que o mercado funciona. O que é certo é que quer em Portugal quer nos outros países não parece ter diminuído a disponibilidade para pagar”.

João Oliveira sublinhou que as empresas farmacêuticas vão colocando os medicamentos no mercado ao preço que percebem que quem compra está disposto a pagar e, vincou, “tem sido impossível até agora romper esta cascata”.

“Há ‘démarches’ a nível europeu e a nível internacional, mas não vi grandes resultados. É quase um fatalismo”, criticou.

Questionado se a despesa também aumentou por serem medicamentos inovadores, comentou que geralmente quando nascem já vêm com “cara inovadora” e já vão ser pagos como inovadores.

“Também é um vício de prática que precisava ser corrigido e que eu espero que a literacia sobre a saúde, o conhecimento e a compreensão do que se passa exatamente na prestação de cuidados venha a corrigir isto no futuro, mas é um caminho prolongado”, lamentou.

O presidente do IPO de Lisboa, que está prestes a terminar o seu mandato, notou que enquanto cada nova contratação “é escrutinada finamente” pelos ministérios da Saúde e das Finanças, mesmo que seja para empregar uma pessoa com o ordenado mínimo, já no que respeita a “esta enorme despesa com medicamentos há muito pouco escrutínio”.

“Percebemos que isso é um sinal de confiança por parte do Governo e das outras entidades escrutinadoras sobre a utilização que fazemos dos medicamentos, mas também por isso é que um instituto como o IPO se sente na obrigação de avaliar o mais rigorosamente possível de que forma é que está a fazer essa despesa”, defendeu.

No seu entender, isso é uma obrigação do Instituto até pelos ensinamentos que pode dar para o resto do Serviço Nacional de Saúde sobre a utilização de medicamentos.

“Queremos fazer jus à confiança que em nós depositam perante as entidades de que dependemos, uma confiança que nos permite lidar com estas despesas enormes, mas achamos que devemos corresponder a essa confiança com maior investigação sobre a efetividade destes tratamentos”, reconheceu João Oliveira.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

INSA assume coordenação nacional da rede de vigilância a vetores

Portugal dispõe agora de uma estrutura formalizada para monitorizar e responder a ameaças de doenças transmitidas por mosquitos e carraças. No dia do seu 126.º aniversário, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge viu reforçadas as suas atribuições, passando a coordenar oficialmente a Revive. O presidente Fernando Almeida garante que o país está preparado para agir perante eventuais emergências, citando a experiência de outros países do sul da Europa onde já se registam casos autóctones

Europa une esforços para travar desigualdades no acesso a tratamentos oncológicos

A Rede Europeia de Centros Compreensivos de Cancro (EUnetCCC) apresentou esta sexta-feira, em Paris, um documento estratégico que apela a medidas urgentes para colmatar as disparidades no acesso a cuidados oncológicos entre os Estados-membros. O White Paper defende a consolidação da rede como infraestrutura permanente e alerta que, sem ação política, as desigualdades continuarão a crescer, comprometendo o combate à doença que mata 1,3 milhões de pessoas por ano na Europa

ULS Médio Tejo Investe em Mobilidade para Equipas Comunitárias

A Unidade Local de Saúde do Médio Tejo colocou na estrada uma nova viatura elétrica, num investimento de 30 mil euros, para apoiar o trabalho das suas Equipas Comunitárias de Saúde Mental. O veículo visa intensificar a presença regular das equipas nos concelhos da região, levando cuidados continuados a pessoas com doença mental grave. O objetivo é encurtar distâncias geográficas e humanas, garantindo uma intervenção mais próxima do contexto de vida dos utentes

PS propõe aumento permanente para pensões e condiciona subida do ISP

O PS propôs a conversão de um eventual bónus pontual nas pensões num aumento permanente, uma das cerca de cem alterações ao OE2026. Eurico Brilhante Dias garantiu que as medidas mantêm o excedente orçamental e condicionou uma eventual subida do ISP à aprovação parlamentar, destinando essa receita para baixar o IVA de alimentos.

Proteção Civil valida plano de intervenção para emergências no Aeroporto da Madeira

O Serviço Regional de Proteção Civil aprovou o novo Plano Prévio de Intervenção para o Aeroporto da Madeira, documento que estabelece os procedimentos de atuação imediata em caso de acidente grave. A validação ocorreu durante a reunião semanal do Centro de Coordenação Operacional Regional e foi complementada por um exercício de larga escala que simulou um cenário de derrame e incêndio numa aeronave, envolvendo dezenas de viaturas e operacionais de múltiplas entidades

Bial integra Pedro Pereira Gonçalves no Conselho de Administração

A farmacêutica Bial anunciou hoje a cooptação de Pedro Pereira Gonçalves para o seu Conselho de Administração, na qualidade de membro não executivo. O executivo, com um percurso cimentado entre a alta finança e as políticas públicas, traz para a empresa de Porto uma visão estratégica que pretende alavancar a ambição de expansão internacional e o reforço das parcerias globais do grupo.

Proteção Social na UE Consome Quase um Terço do PIB em 2024

O peso das prestações de proteção social na economia da União Europeia acentuou-se no ano de 2024, representando 27,3% do Produto Interno Bruto do bloco. Segundo dados do Eurostat, a despesa total ascendeu a 4,9 mil milhões de euros, um aumento homólogo de 6,9%. Finlândia, França e Áustria lideram no esforço relativo, enquanto a Irlanda regista a percentagem mais baixa. Em Portugal, a fatia do PIB afeta a estas rubricas também cresceu.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights