Enfermeiros em Viseu vão dar formação a cuidadores de doentes paliativos

8 de Fevereiro 2022

Dois enfermeiros do Centro Hospitalar Tondela Viseu (CHTV) vão avançar com um projeto de formação a cuidadores de doentes paliativos no sentido de melhorar a qualidade de vida de ambos, disse esta terça-feira à agência Lusa uma responsável.

“Se os cuidadores se sentirem mais acompanhados, mais seguros e mais preparados para gerir medicação, para saber o que é que é expectável acontecer e o que fazer, isso tem mais valias para o doente e hospitalares”, defendeu Carla Santos.

A mentora de “ser cuidador em cuidados paliativos”, juntamente com o também enfermeiro Renato Santos, considerou que, “com o tempo, será uma mais-valia pela diminuição das idas ao serviço de urgência e até na diminuição do número de internamentos, assim como o bem-estar do doente e do cuidador”.

Carla Santos e Renato Santos são enfermeiros da equipa intra-hospitalar de suporte em cuidados paliativos do CHTV, “desde a sua génese, há cinco anos, a tempo inteiro e com formação avançada nesta área”.

Há sensivelmente dois anos começou a nascer “a ideia de fazer um projeto na área dos cuidadores de pessoas com doença grave, incurável e progressiva”, pela “necessidade sentida” por ambos ao longo dos anos de trabalho de que “os cuidadores precisavam de ser suportados e ajudados”.

Assim, ao tomarem conhecimento do orçamento participativo da secção regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros para 2021/2022, candidataram o projeto e, há uma semana, foram a Coimbra levantar “o prémio de quatro mil euros” para colocarem a ideia em prática.

“Estamos agora a fazer a calendarização, temos de ter muito cuidado e cautela, por causa da pandemia, para reunir presencialmente com cuidadores. O projeto é grande, porque abarca 10 cuidadores por mês, durante seis meses – ao todo, vamos abranger 60 cuidadores”, explicou.

A cada cuidador os enfermeiros vão “ensinar o posicionamento, os cuidados de higiene e a gestão da medicação mais frequente nesta área dos cuidados paliativos” e, numa segunda sessão, vão “ouvir dúvidas e preocupações que vão surgindo” aos cuidadores.

“Há também uma parte mais prática, onde vamos abordar as massagens, aromaterapia, ou seja, técnicas não farmacológicas, que ajudam no controlo de sintomas e ajudam a melhorar a qualidade de vida do doente”, acrescentou.

Também o cuidador em si será foco da formação, uma vez que “o autocuidado é fundamental, pela importância do cuidador se cuidar a si próprio para estar bem e o melhor possível para cuidar do seu familiar”.

“Aqui entramos também na área psicoemocional, porque o autocuidado não é só o descanso físico, também passa pela promoção de atividades que possam ter para se cuidarem e nutrirem de forma a promoverem o seu próprio bem-estar”, sublinhou.

A título de exemplo, Carla Santos destacou a “importância de cada cuidador ter uma pessoa de suporte para, uma vez por semana, poder sair durante ‘x’ horas e saber que o seu familiar está com alguém de confiança”.

José Abrantes é um desses cuidadores, já que partilha os cuidados da sua mãe com o seu irmão Vítor e “o tempo é gerido pelos dois” e os horários “são realizados em função das disponibilidades de cada um”.

“Mas nenhum de nós tem qualquer formação na área da saúde. Trabalhamos numa oficina e eu ainda estudo, portanto, esta formação para o cuidador é de louvar, porque vai ser de uma grande ajuda para ajudar a cuidar da minha mãe”, sublinhou José Abrantes.

À agência Lusa este cuidador de 43 anos defendeu a “importância de aprender a cuidar do bem-estar” da sua mãe, em coisas “como o inchaço das pernas, por causa da retenção de líquidos, de forma também a que não arranje feridas e problemas futuros a juntar” à doença.

“O que mais nos angustia é que a nossa mãe possa ter dores e todos os cuidados vão no sentido desse seu bem-estar, mas o lado psicológico é igualmente muito importante e acho que este projeto vai ser bastante bom para as famílias dos doentes”, considerou.

José Abrantes fará parte do primeiro grupo de cuidadores a receber formação e está “expectante, porque há todo um contexto que deve ser cuidado, não só o doente como todos os que o rodeiam, em especial o cuidador”.

“Acho que beneficiamos todos com esta formação. O cuidador, o doente, os que nos rodeiam e o próprio sistema de saúde, porque se nós estamos mais capacitados não vamos recorrer tanto das instituições”, considerou José Abrantes.

O projeto será “implementado na região Centro em doentes adultos que sejam acompanhados por equipas de cuidados paliativos”, explicou a enfermeira, já que, “depois da formação e capacitação, os cuidadores continuam a ser acompanhados pelas suas equipas de referência”.

Os mentores do projeto também farão um estudo do “antes e depois da formação, para avaliar a exaustão do cuidador, a qualidade de vida do doente e o impacto no serviço hospitalar”, neste caso, no CHTV, já que “a formação abrange doentes desta área”.

“Da parte da direção do CHTV já temos também a abertura de dar continuidade ao projeto, caso os resultados sejam os que nós esperamos, de impacto positivo no doente e na unidade hospitalar”, disse Carla Santos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Ronaldo Sousa: “a metáfora da invasão biológica é uma arma contra os migrantes”

Em entrevista exclusiva ao Health News, o Professor Ronaldo Sousa, especialista em invasões biológicas da Universidade do Minho, alerta para os riscos de comparar migrações humanas com invasões biológicas. Ele destaca como essa retórica pode reforçar narrativas xenófobas e distorcer a perceção pública sobre migrantes, enfatizando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para políticas migratórias mais éticas

OMS alcança acordo de princípio sobre tratado pandémico

Os delegados dos Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram este sábado, em Genebra, a um acordo de princípio sobre um texto destinado a reforçar a preparação e a resposta global a futuras pandemias.

Prémio Inovação em Saúde: IA na Sustentabilidade

Já estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”. Com foco na Inteligência Artificial aplicada à saúde, o concurso decorre até 30 de junho e inclui uma novidade: a participação de estudantes do ensino superior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights