“A situação neste momento tem tendência para regularizar e normalizar, mas obviamente que durante estes dois anos de pandemia, a infeção por SARS-CoV-2 sobrepôs-se pela emergência, pela urgência e pela dimensão a outras doenças prevalentes que, porventura, ficaram aqui e ali prejudicadas e para trás”, disse Fernando Maltez.
O médico falava à agência Lusa a propósito das 13.ª Jornadas de Atualização em Doenças Infecciosas do Hospital de Curry Cabral, que decorrem na quinta e sexta-feira, em Lisboa.
O diretor do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital de Curry Cabral disse que a maior dificuldade de acesso aos cuidados de saúde de doentes infetados com VIH, a dificuldade em levantarem a sua medicação e de se queixarem de problemas decorrentes da doença “com certeza que teve repercussões na saúde dos doentes”.
Segundo o infeciologista, estas consequências poderão ser até prolongadas na “perpetuação da infeção”: “Se houve abandono de terapêuticas, se houve toma inadequada da medicação pode determinar aumento da transmissão, pode determinar a transmissão da resistência e pode ter consequências negativas”.
Pode também ter prejudicado o rastreio, o diagnóstico, porque as pessoas estiveram mais longe dos serviços de saúde.
O mesmo pode-se ter passado com a tuberculose. “Provavelmente, houve muitos casos de tuberculose a nível global que ficaram por diagnosticar”.
No continente africano, exemplificou, “a falta de acesso aos cuidados de saúde, o atraso na chegada aos cuidados de saúde, há de ter prejudicado tratamentos de malária”.
Nas jornadas que se realizam esta semana especialistas vão debater “o futuro da pandemia de covid-19”, “as variantes víricas e distribuição global”, “imunização, reinfeção e impacto na saúde pública”, “doenças endémicas e tropicais”, “infeção por VIH”, entre outros temas.
Fernando Maltez, presidente da Comissão Organizadora das Jornadas, destacou à Lusa importância das jornadas.
“São desde há uns anos umas jornadas importantes a nível nacional e de referência na área das doenças infeciosas a nível nacional, para não dizer que serão provavelmente o principal evento que se realiza no país no que diz respeito às doenças infeciosas”, salientou.
Apesar dos constrangimentos impostos pela pandemia, o infeciologista disse esperar que “não fujam à regra” em termos de qualidade, participação, e discussão como tem sido nos últimos anos.
“Esperamos umas jornadas com a mesma qualidade, com temas que têm todos eles muito interesse, em que vai prevalecer a discussão sobre a infeção por SARS-CoV-2 e a covid-19”.
As jornadas contemplam três ou quatro áreas respeitantes a doenças infeciosas mais prevalentes, não só em Portugal como a nível global, mas também serão abordadas as infeções clássicas, as infeções emergentes e as doenças endémicas tropicais.
Este ano haverá uma conferência dedicada à história da poliomielite.
LUSA/HN
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