Especialista sugere acompanhamento diferenciado para doentes ligeiros e graves com ‘long covid’

24 de Fevereiro 2022

Numa altura em que ainda pairam no ar inúmeras dúvidas sobre o impacto e sequelas da infeção por SARS-CoV-2, a Assistente Hospitalar do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital Curry Cabral propõe que aos doentes graves com 'long covid' seja dada maior atenção e sugere a "referenciação a consulta específica ou a diversas especialidades em função da sintomatologia apresentada". 

Diana Seixas abordou o tema do ‘long covid’ à margem do curso temático “SARS-CoV-2 e Covid-19 – Onde estamos e para onde vamos?” que decorreu esta, quarta-feira à tarde, no Culturgest, em Lisboa.

Para Diana Seixas, “falar da Covid-19 é falar de mortalidade e morbilidade sem precendentes. Sob o tema “Síndrome pós-aguda e sequelas clínicas”, a assistente hospitalar destacou que cada vez mais “há muitos doentes a apresentarem sintomas tardiamente”, admitindo que “é algo que ainda não compreendemos totalmente”.

Quando falamos ‘long covid’ significa que estamos perante sintomas que persistem após a recuperação da infeção. Entre os sintomas mais frequentes há evidência de que há uma maior ligação ao sistema respiratório. Na sua intervenção, a especialista destacou: a astenia, a tosse e a apneia. Todos estes sintomas “têm repercussão na produtividade dos doentes” e “afeta a sua qualidade de vida”.

Apesar de ser uma questão que preocupa os especialistas e os doentes, Diana Seixas admite que o ‘long covid’ não é um fenómeno novo. “Apesar de ser pouco debatido…  Pessoas que sejam internadas com pneumonias da comunidade, até 50%, três meses após o diagnóstico, ainda têm dispneia e 30% podem manter alguma fadiga”. “Há sintomas que persistem para além da infeção”, frisa.

Sobre o tipo de doentes com maior risco de ficar com ‘long covid’, a especialista diz que ainda não há evidências claras sobre este aspeto. No entanto, estima-se que “30% dos doentes podem apresentar sintomas posteriormente, incluindo aqueles que tiveram infeções ligeiras ou assintomáticas”. Por outro lado, acredita-se que os grupos mais vulneráveis sejam os das pessoas com idade avançada e comorbilidade prévia.

Apesar de admitir que seja “impraticável manter todos estes doentes em consulta”, Diana Seixas propõe que aos doentes jovens e com infeção ligeira não seja implementada consulta de rotina, mas os doentes com comorbilidades, idade avançada ou doença ligeira a moderada sejam acompanhados em consulta de telemedicina três semanas após o início da doença. Já nos casos em que a doença é grave, sugere uma reavaliação passado uma semana “e se possível de forma presencial”.

“Para todos os doentes com sintomas persistentes, sobretudo se multissistémicos, que dura mais de quatro semanas deve haver referenciação a consulta específica ou a diversas especialidades em função da sintomatologia apresentada”, conclui.

Para encerrar o debate, Diana Seixas considerou que “o tempo de recuperação ainda é uma incógnita”, dependendo “da origem do problema”.

HN/Vaishaly Camões

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