Um tratamento médico “menos invasivo e mais respeitador da integridade do órgão” é a principal necessidade sentida por mulheres com miomas uterinos. De acordo com o Diretor Médico da Gedeon Richter estes tumores benignos são o principal motivo de hospitalização e cirurgia por causa ginecológica. Depois de admitir o papel dos miomas na infertilidade, Daniel Pereira da Silva sublinha os esforços que estão a ser feitos para garantir a qualidade de vida das mulheres.
HealthNews (HN)- Muitas mulheres podem desenvolver miomas no útero ao longo da vida e, apesar de não se tratarem de tumores cancerígenos, podem ter várias complicações. Em que medida a qualidade de vida das mulheres é afetada por esta patologia?
Daniel Pereira da Silva (DPS)- Os miomas são extremamente prevalentes. Vários estudos demonstram que 70% das mulheres com menos de cinquenta anos têm miomas uterinos de tamanhos variáveis. No entanto, apenas cerca de 40% destes miomas é que apresenta sintomas que se podem expressar por hemorragias, por dores de intensidade variável ou por infeções urinárias. Estes miomas têm impacto significativo na qualidade de vida da mulher que se repercute na sua capacidade de concentração no trabalho e na sua vida sexual devido às dores.
HN- Os miomas podem ter diferentes tamanhos e situar-se em diferentes partes do útero, podendo alterar a estrutura do útero. Qual o papel que estes tumores benignos podem ter na infertilidade?
DPS- O papel na infertilidade depende do volume do tamanho dos miomas, mas, acima de tudo, da localização. Os miomas que crescem para o interior da cavidade uterina – ou seja, no local onde se pode desenvolver todo o processo reprodutivo de uma gravidez- podem conflituar o processo gestacional. Estes miomas podem impedir que a mulher engravide ou pode levar a abortos prematuros.
Os miomas que se situam na parede uterina podem interferir no processo reprodutivo. Sabemos que os tumores de cerca de três centímetros de volume podem ter esse impacto.
HN- Os miomas uterinos são cada vez mais frequentes em idade reprodutiva. Embora seja uma doença altamente associada a fatores genéticos, existe alguma forma de prevenir esta patologia?
DPS- Não. Sabemos que a incidência dos miomas aumenta com a idade, e como, hoje em dia, as mulheres optam por ter o primeiro filho em idades mais tardias, é nessas alturas que os miomas são mais prevalentes. Muitas vezes, é nessa vinda às consultas, para determinar se tudo está bem, que descobrimos que há um pequeno mioma. Daí a importância que a mulher se faça observar com regularidade.
Prevenir os miomas não é possível, não há nenhuma medida terapêutica ou medida de comportamento que permita às mulheres prevenir estes tumores benignos. Podemos, sim, realizar diagnósticos precoces e ter uma atitude terapêutica com vista a acompanhar melhor o desenvolvimento do mioma.
HN- Que novas soluções terapêuticas estão a ser desenvolvidas para responder às necessidades sentidas por estas mulheres?
DPS- O tratamento dos miomas foi sempre feito essencialmente por cirurgia. As principais causas de cirurgia ginecológica são os miomas uterinos por serem muito prevalentes na mulher. Ora, a cirurgia não só é invasiva como, também, representa um risco até de vida. Embora, atualmente esse risco seja bastante baixo, a própria cirurgia dos miomas uterinos representa para a mulher um fator adicional de infertilidade futura. Por este motivo é que se procurou, desde sempre, um tratamento médico que vá ao encontro destas necessidades: que seja menos invasivo e que seja mais respeitador da integridade do órgão. O grande desejo é que se encontre, se possível, um tratamento que permita controlar o desenvolvimento dos miomas.
HN- Recentemente teve início, a nível nacional, a comercialização de um novo medicamento para o tratamento dos miomas uterinos. O que diferencia esta nova solução terapêutica dos restantes tratamentos disponíveis?
DPS- Os miomas desenvolvem-se quando os ovários funcionam de forma plena. Depois de a mulher entrar na menopausa os miomas já não se desenvolvem, nem aparecem. Ou seja, eles dependem do próprio funcionamento dos ovários… E o que este novo tratamento permite é um maior controlo do estímulo hormonal. Este medicamento faz com que consigamos controlar os sintomas que os miomas provocam.
Este novo medicamento vem de uma nova classe terapêutica, que controla a produção endócrina da mulher a nível da hipófise e do ovário, e é administrado diariamente por via oral. Tem uma taxa de sucesso e de eficácia em relação ao controlo das hemorragias em mais de 70% dos casos. É mais uma arma terapêutica que os ginecologistas terão ao seu dispor para controlar os miomas uterinos.
Entrevista de Vaishaly Camões
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