Governo de Cabo Verde diz que erradicar pobreza extrema é objetivo desta década

12 de Abril 2022

O vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, assumiu esta terça-feira a “ambição” de o país erradicar a pobreza extrema e reduzir de forma “substancial” a pobreza absoluta nesta década, apostando na resiliência e na diversidade económica.

“A nossa ambição é que tenhamos uma nação democrática, inteligente, digital e empreendedora, com oportunidades para todos. Um país sem pobreza extrema, com redução substancial da pobreza absoluta”, afirmou Olavo Correia, que copresidiu esta manhã, na Praia, ao Exercício de Prospetiva Estratégica, no quadro da elaboração do novo quadro de programa de cooperação 2023-2027 do Sistema das Nações Unidas.

“Um país produtor, exportador, que aposta na qualificação do capital humano enquanto uma aposta imprescindível. Mas também, um país que está a criar todas as condições para ser estável e útil e uma referência à escala global e à escala internacional”, apontou ainda.

O Governo cabo-verdiano estima que Cabo Verde tem 115 mil pessoas na pobreza extrema – para uma população total de quase meio milhão – e assumiu no final de 2021 o objetivo de a erradicar, tendo lançado para o efeito o programa MAIS – Mobilização pela Aceleração da Inclusão Social, envolvendo organizações não-governamentais e outras entidades da sociedade civil.

Para atingir os objetivos até final da década, o governante, que é também ministro das Finanças, afirmou que a primeira aposta passa pela “agenda da reforma do Estado” e da Administração Pública, mas também pela qualificação dos recursos humanos, pela ciência e investigação, pela juventude e pela capacidade empreendedora no país e da diáspora.

“É muito importante investir na resiliência da economia cabo-verdiana, na sua diversificação passando para economia azul, economia verde, economia digital, para além do turismo, mas sobretudo apostando no capital humano, que é o grande diferencial de Cabo Verde em relação ao mundo e que será capaz de fazer a diferença nos mais diversos setores catalíticos para a nossa economia”, afirmou.

Sublinhou que para estes objetivos, o sistema educativo “tem de ser de qualidade muito elevada, porque daí depende o futuro de Cabo Verde”.

“Em 2030 queremos um país inclusivo, com mais democracia, mais descentralizado, com mais participação dos jovens e das mulheres. Que seja um Cabo Verde que orgulha a todos os cabo-verdianos e a todos os nossos parceiros”, defendeu ainda.

Para a coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ana Graça, o arquipélago contará neste percurso, até 2030, com desafios internos e externos, tendo em conta que continua a recuperar das consequências económicas da pandemia de Covid-19, estando agora impactada pela escalada de preços provocada pela guerra na Ucrânia.

“Temos uma série de desafios atuais e que requerem medidas excecionais e, no caso da pandemia, a solidariedade internacional ajudou a se conseguir os níveis de vacinação que Cabo Verde alcançou a nível mundial”, apontou Ana Graça, que copresidiu a este encontro, que juntou membros do Governo, empresários e a sociedade civil.

A responsável já tinha admitido este ano que Cabo Verde tem condições para ser o primeiro país africano a eliminar a pobreza extrema. De acordo com a responsável, o crescimento económico inclusivo, para gerar emprego e rendimento no país, com a aposta no capital humano, será uma das prioridades das agências da Organização das Nações Unidas (ONU) que operam no arquipélago no próximo programa de cooperação com Cabo Verde.

O Banco Mundial estimou em 2020 que a pobreza extrema global deverá subir pela primeira vez em 20 anos devido aos impactos da pandemia de Covid-19, levando até quase 10% da população mundial a viver com menos de 1,90 dólares por dia.

Representantes das várias agências das Nações Unidas estão a preparar desde janeiro o próximo quadro de cooperação com Cabo Verde, que vai desenvolver-se de 2023 a 2027.

As agências das Nações Unidas que já trabalham em Cabo Verde apontam como prioridades para o próximo programa “reforçar o apoio à boa governação” e à modernização e digitalização da Administração Pública cabo-verdiana.

Para Ana Graça, são eixos em que as Nações Unidas podem “trazer valor acrescido” a Cabo Verde.

Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde março de 2020, devido à pandemia de Covid-19.

Em 2020 registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021.

O Governo de Cabo Verde e o Sistema das Nações Unidas assinaram em outubro de 2017 o Quadro de Cooperação para o Desenvolvimento das Nações Unidas em Cabo Verde (UNDAF), orçado em cerca de 92 milhões de dólares (81,3 milhões de euros), cuja execução termina este ano (2018 – 2022), iniciando-se agora o processo para ultimar o próximo quadro, ainda sem verbas definidas.

LUSA/HN

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