Apesar da indignação manifestada através de gritos de protestos, o ambiente foi também de festa, muito devido à união e solidariedade que este movimento gerou.
“Estamos cansados que tentem mandar nos nossos corpos”, disse uma jovem manifestante à Lusa.
Abraços, sorrisos e olhares de cumplicidade trocados entre mulheres soaram tão alto como o som dos tambores tocados ao longo de toda a marcha, que partiu da Cadman Plaza, em Brooklyn, e seguiu para a Foley Square, em Manhattan, no centro de Nova Iorque.
Antes da marcha ter início, fontes da organização disseram à Lusa que esperavam cerca de 37 mil pessoas, mas que o número final poderá ser superior.
Praticamente todas os manifestantes, desde crianças até idosos, vestiram-se com camisolas ou acessórios com mensagens pró-aborto, e exibiram mensagens como “Aborto seguro e legal para todos”, “Estamos em 2022 e ainda tenho de estar a protestar por isto?”, “Apoiem os direitos das mulheres”, “Abaixo o patriarcado” ou “Aborto é cuidado de saúde”.
Apesar da maioria estar redigida em inglês, muitos cartazes continham mensagens em espanhol, devido à grande comunidade hispânica residente em Nova Iorque.
Cartazes com os rostos dos juízes conservadores do Supremo Tribunal norte-americano que pretendem revogar o direito ao aborto também foram exibidos.
A marcha foi organizada por algumas das maiores organizações pró-aborto dos Estados Unidos, como a Planned Parenthood, National Institute for Reproductive Health, Abortion Access Front, National Institute for Reproductive Health, entre outras.
Apesar de Nova Iorque não ser um dos estados em risco de reverter o acesso ao aborto, a organização quis mostrar aos nova-iorquinos o “privilégio” que têm e mostrar apoio aos estados que estão em risco de ter esse direito revertido já em junho, para quando está previsto o anúncio da decisão final do Supremo.
“Aborto é saúde. Nova Iorque tem a oportunidade de dar um exemplo nacional (…) e temos a oportunidade agora de começar a construir um movimento verdadeiramente interseccional em todo o espetro dos nossos problemas”, disseram as organizações numa carta aberta divulgada alguns dias antes desta manifestação.
As manifestações pró-aborto agendadas um pouco por todo o país foram convocadas após uma fuga de informação sobre uma iniciativa do Supremo Tribunal norte-americano para revogar o direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez.
Se anulada a decisão conhecida como “Roe v. Wade”, que protege como constitucional o direito das mulheres ao aborto, os Estados Unidos voltarão à situação que existia antes de 1973, quando cada estado era livre de proibir ou autorizar a realização de abortos.
Dada a grande divisão geográfica e política sobre a questão, espera-se que metade dos estados, especialmente no sul e no centro, mais conservadores, proíbam rapidamente o procedimento, entre Texas, Arizona, Missouri, Geórgia, Ohio, Indiana ou Wisconsin.
Antes da sentença, em 1973, 30 estados dos 50 que compõem os Estados Unidos tinham leis que proibiam o aborto em qualquer momento da gravidez.
O resultado da decisão do Supremo, de maioria conservadora, está previsto para junho e terá também repercussões na campanha eleitoral antes das eleições intercalares de novembro, que determinarão que partido controlará o Congresso.
LUSA/HN
0 Comments