Médicos do Mundo lançam projeto piloto no metro de Kharkiv

22 de Maio 2022

Os Médicos do Mundo vão lançar um projeto-piloto na Ucrânia para apoiar, com cuidados de saúde e medicação, a população que se encontra abrigada no metro de Kharkiv, disse à Lusa a diretora executiva da delegação portuguesa.

Em entrevista à agência Lusa, Carla Paiva indicou que se encontram na Ucrânia as delegações de Espanha e da Alemanha da rede internacional Médicos do Mundo, estando as congéneres dos restantes países a prestar apoio logístico e suporte material, com a recolha e envio de bens.

Portugal prepara o envio de 30 europaletes com material médico, medicamentos e produtos de higiene pessoal. “É uma quantidade considerável de bens que vão ser enviados. Estão a aguardar que seja possível fazer este transporte e que a recolha também seja possível, porque a parte logística é uma componente bastante frágil no território”, afirmou.

A organização não-governamental (ONG) desenvolve atividades na Ucrânia com as delegações espanhola e alemã desde 2015, na sequência da anexação da Crimeia pela Rússia e reforçou a intervenção com o desenrolar da guerra nos últimos meses.

Os Médicos do Mundo integram outros profissionais de saúde, atuam em unidades móveis que percorrem o território e estão neste momento a reforçar a resposta ao nível de cuidados básicos de saúde, de acordo com a diretora da organização humanitária em Portugal.

Os bens angariados em Portugal que não foi possível fazer chegar à Ucrânia em tempo útil foram direcionados para entidades nacionais que já estavam a trabalhar no apoio a refugiados e migrantes, por forma a não desperdiçar “a ajuda da sociedade civil”, contou, acrescentando: “Todos os outros vão ser enviados para as equipas à medida que a capacidade logística permita”.

A organização apoiou mais de 20 estruturas de saúde na Ucrânia, às quais continua a fornecer material.

“Estivemos sempre na região de Donbass e neste momento reforçamos, novamente, todas as intervenções. O foco é a prestação de cuidados básicos, voltámos a dar consultas de apoio psicológico presencial. Estávamos com consultas ‘online’ e neste momento retomámos as consultas por via presencial”, referiu, quando questionada sobre as prioridades três meses depois do início da guerra, declarada pela Rússia como uma “operação militar especial”, a 24 de fevereiro.

Os Médicos do Mundo mantêm-se presentes em Bucha, cidade na região de Kiev, Chernivtsi (sudoeste) e Kharkiv, a segunda maior cidade (leste).

“As equipas que estão a prestar estes cuidados são enfermeiros de equipas móveis. Em Chernivtsi, por exemplo, a equipa médica é composta por um médico, uma parteira, um psicólogo e um farmacêutico. Desde meio de abril até à data, deram mais de 600 consultas a pessoas deslocadas e estamos a fazer o reforço”, acrescentou.

Em Kharkiv, avançou, será iniciado brevemente um projeto-piloto para dar apoio a todas as pessoas que se encontram no metro da cidade, para “prestação de cuidados de saúde e apoio ao nível de medicação direta”.

Em Bucha, o apoio psicológico voltou a ser feito diretamente e em Dnipro, a quarta maior cidade da Ucrânia, será também reforçada a atividade. “Estamos a retomar e a reforçar praticamente todos os locais onde já vínhamos trabalhando”, assegurou Carla Paiva.

A medicação é um dos bens em “maior escassez”, segundo a diretora executiva. “O acesso aos medicamentos neste momento é uma preocupação e procuramos dar este apoio, quer à consulta direta, quer ao medicamento. Neste momento é uma preocupação, estamos a doar medicamentos essenciais, os ‘kits’ de maternidade, ‘kits’ de emergência médica, que estão a ser direcionados para as instalações de saúde em toda a Ucrânia”, frisou.

De acordo com a responsável pela organização humanitária, a doação de medicamentos essenciais deve ser uma prioridade.

Os Médicos do Mundo atuam igualmente em Portugal no apoio a população em situação vulnerável, através de unidades móveis que circulam em Lisboa e no Porto.

Também aqueles que se refugiaram em Portugal têm procurado este apoio.

“Começamos a sentir agora um aumento de pedidos de apoio nas nossas unidades móveis e de facto as pessoas vêm em situação mais frágil, quer física, quer mentalmente. Vêm em situações de maior fragilidade do que aquelas que chegaram a Portugal há dois meses”, admitiu.

Em território ucraniano, os profissionais deparam-se com “muitos relatos de abuso sexual com base no género”. A questão do tráfico de seres humanos junto às fronteiras é também uma das preocupações para as quais a organização alerta. De acordo com Carla Paiva, há “um elevado risco de tráfico de seres humanos” e um problema de assédio sexual no meio de um conflito que já levou à fuga de milhões de pessoas, originando a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Bragança acolhe fórum regional dos Estados Gerais da Bioética organizado pela Ordem dos Farmacêuticos

A Ordem dos Farmacêuticos organiza esta terça-feira, 11 de novembro, em Bragança, um fórum regional no âmbito dos Estados Gerais da Bioética. A sessão, que decorrerá na ESTIG, contará com a presença do Bastonário Helder Mota Filipe e integra um esforço nacional do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida para reforçar o diálogo com a sociedade e os profissionais, recolhendo contributos para uma eventual revisão do seu regime jurídico e refletindo sobre o seu papel no contexto tecnológico e social contemporâneo.

II Conferência RALS: Daniel Gonçalves defende que “o palco pode ser um bom ponto de partida” para a saúde psicológica

No âmbito do II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, realizado em Viana do Castelo, foi apresentado o projeto “Dramaticamente: Saúde Psicológica em Cena”. Desenvolvido com uma turma do 6.º ano num território socialmente vulnerável, a iniciativa recorreu ao teatro para promover competências emocionais e de comunicação. Daniel Gonçalves, responsável pela intervenção, partilhou os contornos de um trabalho que, apesar da sua curta duração, revelou potencial para criar espaços seguros de expressão entre os alunos.

RALS 2025: Rita Rodrigues, “Literacia em saúde não se limita a transmitir informação”

Na II Conferência da Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS), em Viana do Castelo, Rita Rodrigues partilhou como o projeto IMPEC+ está a transformar espaços académicos. “A literacia em saúde não se limita a transmitir informação”, afirmou a coordenadora do projeto, defendendo uma abordagem que parte das reais necessidades dos estudantes. Da humanização de corredores à criação de casas de banho sem género, o trabalho apresentado no painel “Ambientes Promotores de Literacia em Saúde” mostrou como pequenas mudanças criam ambientes mais inclusivos e capacitantes.

II Encontro RALS: Rayana Marcela Oliveira defende que “alimentar” vai muito além dos nutrientes

Na II Conferência da Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS), em Viana do Castelo, Rita Rodrigues partilhou como o projeto IMPEC+ está a transformar espaços académicos. “A literacia em saúde não se limita a transmitir informação”, afirmou a coordenadora do projeto, defendendo uma abordagem que parte das reais necessidades dos estudantes. Da humanização de corredores à criação de casas de banho sem género, o trabalho apresentado no painel “Ambientes Promotores de Literacia em Saúde” mostrou como pequenas mudanças criam ambientes mais inclusivos e capacitantes.

Rosinda Costa no II Encontro RALS: “Respirar bem-estar de dentro para fora” é fundamental para os serviços de saúde

No II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, Rosinda Costa, da ULS do Alto Minho, desafiou a perceção convencional de promoção de saúde. Defendeu que as organizações de saúde devem constituir-se como o primeiro ecossistema saudável, argumentando que “cuidar de quem cuida” representa o alicerce fundamental para qualquer estratégia de literacia. A oradora propôs a transição de iniciativas pontuais para um compromisso institucional com o bem-estar dos profissionais

Retinopatia Diabética Ameaça Visão de um Terço dos Diabéticos em Portugal

Um terço da população diabética em Portugal apresenta sinais de retinopatia diabética, uma complicação grave que se tornou a principal causa de cegueira evitável em idade ativa. Especialistas alertam para a urgência de exames oculares regulares, sublinhando que o controlo da glicemia não basta para travar esta epidemia silenciosa que já afeta cerca de 300 mil pessoas.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights