Diana Breda: “A revisão da carreira é uma prioridade como nunca foi antes”

05/27/2022
Com eleições à porta, a candidata à liderança da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) garante que o seu principal objetivo será “insistir para que a tutela coloque a revisão da carreira na agenda da política negocial”. Diana Breda deixa críticas sobre o “trabalho claramente insuficiente” da atual direção, alegando não estar "sozinha nisto". "Há muita gente a considerar que houve falta de empenho na questão da revisão da carreira”, garante. A candidata lamenta a falta de reconhecimento da profissão, defendendo que a lista B representa a “mudança”. As eleições estão agendadas para próxima terça-feira, dia 31 de maio.

HealthNews (HN)- Quais as razões que motivaram a sua candidatura à presidência da APAH?

Diana Breda (DB)- Nos últimos tempos, eu e um grupo significativo de sócios da APAH não nos temos vindo a sentir representados com a atual direção. Portanto, acabamos por sentir que tínhamos o dever de nos candidatar para as eleições internas, de maneira a tentar mudar alguns aspetos que consideramos terem sido deixados de lado.  

HN- A Lista B avança com o mote “pelo reconhecimento, dignificação e valorização da profissão de Administrador Hospitalar”. Quais as vossas principais propostas de atuação?

DB- O nosso principal objetivo é conseguirmos ver reconhecida a carreira da Administração Hospitalar como uma carreira especial. Atualmente há uma certa desvalorização. Os administradores hospitalares têm uma formação específica complementar… Têm uma pós-graduação e não é algo comum em termos de administração pública. São, no fundo, dirigentes formados para trabalhar na Saúde e isso tem que ser valorizado. Há uma grande desregulação… Entendemos que esta atual direção teve dois mandatos para fazer esse trabalho e achamos que perdeu essa oportunidade.

HN- Referiu a falta de reconhecimento da profissão e da sua importância. O que destacaria sobre o papel dos administradores hospitalares na melhor gestão do SNS?

DB- Os administradores hospitalares ajudaram, obviamente com as outras profissões, a construir o Serviço Nacional de Saúde. Os médicos, enfermeiros, técnicos e  os assistentes operacionais foram todos liderados por administradores hospitalares. São pessoas de quem me orgulho muito. De facto, durante estes dois anos de pandemia – talvez os mais duros do SNS – os administradores hospitalares desempenharam esse papel de gestão. Estes profissionais tiveram que liderar equipas que já estavam muito cansadas e desmotivadas. Os administradores hospitalares tiveram muitas vezes que encontrar soluções para a falta de material clínico. Por todos estes motivos queremos ver o reconhecimento que nos é devido. 

HN- Como olha para o facto de existirem profissionais a desempenhar funções equiparadas às de administrador hospitalar, mas que não estão contratados como tal?

DB- Olho com muita dificuldade. Não é justo que estes profissionais tenham a habilitação e acabem por não ter o vínculo jurídico que a sustente. Na verdade, vemos com muita preocupação duas situações. Por um lado, as pessoas que exercem estas funções e que não têm habilitação de administrador hospitalar – é uma idoneidade legalmente exigida para que se possa exercer o cargo. Por outro lado, temos pessoas que investiram o seu tempo para ter esta formação e acabam por não ser compensadas como deviam. É a altura de os hospitais, conselhos de administração, da ACSS e, desde logo, a tutela reconhecerem a importância que temos. 

HN- Nos últimos seis anos não foi feita a revisão da carreira. Como classifica o trabalho até agora desenvolvido pelo atual responsável?

DB- No que toca à área da carreira o trabalho foi claramente insuficiente. Não posso deixar de reconhecer que o trabalho desenvolvido pelo Dr. Alexandre Lourenço foi importante, mas foi um trabalho que sentimos que teve muita visibilidade externa, mas pouco reconhecimento interno. O trabalho esteve concentrado noutros temas e não houve uma grande preocupação com os sócios e colegas. Não estou sozinha nisto. Há muita gente a considerar que houve falta de empenho na questão da revisão da carreira. Se olharmos para os votantes vemos que apenas 20% dos associados pagam quotas. Podemos dizer que 80% dos sócios não sentem grande utilidade em pertencer à Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. 

HN- Xavier Barreto disse recentemente que este problema é da responsabilidade da tutela. Concorda com esta afirmação?

DB- Sim, mas a APAH tem que desenvolver uma série de iniciativas no sentido de tornar esta situação absolutamente incontornável. Há uma espécie de magistratura de influência que se pode realizar, por exemplo, nos conselhos de administração. É importante dar nota de que esta habilitação de Administração Hospitalar é um curso necessário para desempenhar lugares de gestão. Vamos ter que insistir para que a tutela coloque esta questão na agenda da política negocial. A pressão tem que ser feita para que isto venha a acontecer e, o que é certo é que essa pressão não terá sido feita porque nada aconteceu. Isto não aconteceu com os médicos, enfermeiros e farmacêuticos que foram vendo atualizações na carreira. Portanto, temos que ir acompanhando e reportando aos sócios. 

HN- O vosso principal foco será a revisão da carreira?

DB- Sim. A atual direção não tem um mapeamento de que colegas existem e em que hospitais. Não existe um mapeamento sobre o vínculo jurídico destes profissionais e esse trabalho é prioritário. A partir dessa informação vai ser possível verificar que há muito colegas qualificados e que podem ser uma espécie de peritos nesta estruturação da carreira. Será ainda importante avançar com a publicação de  recomendações associativas para que seja valorizado o curso de especialização, assim como continuar a insistir nas audiências com a tutela.

Um outro exemplo que revela a falta de apoio por parte da atual direção é que não é disponibilizada consultoria jurídica gratuita aos sócios. Temos nota de várias pessoas que acabaram por recorrer a advogados autonomamente porque tiveram problemas laborais e sentiram que não foram defendidos pela APAH. Isto é o que não gostaríamos que acontecesse. Só juntos teremos a força que queremos ter.

HN- Concorre contra Xavier Barreto, candidato que conta com o apoio do atual presidente da associação. Por que razão a lista que encabeça deveria vencer as eleições?

DB- Porque representamos a mudança. É uma mudança que assenta em capacidade de diálogo junto da tutela e na experiência. De facto, esta questão de revisão da carreira para nós é uma prioridade como nunca foi antes. Queremos contar com todos os associados, mas também queremos que os associados possam contar connosco. 

Entrevista Vaishaly Camões

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