Manuel José Soares, porta-voz da CUSMT, disse à Lusa que a falta de cuidados de saúde primários acontece em todo o Médio Tejo, decorrendo a iniciativa em Alcanena, em parceria com a Comissão de Utentes de Serviços Públicos deste concelho, porque um abaixo-assinado que conseguiu mais de 3.500 assinaturas permitiu reunir as “condições objetivas” para que acontecesse.
Alcanena, com mais de sete mil utentes sem médico de família atribuído, numa população com 12.478 residentes (segundo os Censos de 2021), “é, em termos percentuais, a situação mais grave, embora, em termos absolutos, haja concelhos em pior situação, como é o caso de Abrantes, que tem nove mil utentes sem médico de família, e de Ourém, que está muito perto dos quinze mil”, disse.
Segundo Manuel Soares, a situação em Alcanena agrava-se porque, durante a pandemia da Covid-19, por escassez de profissionais, foram encerradas as extensões de saúde de Monsanto, Serra de Santo António, Moitas Venda e Espinheiro, juntando-se às de Malhou e Louriceira, encerradas anteriormente, “com graves prejuízos para a população em termos de proximidade”.
No Médio Tejo faltam mais de 30 médicos de família, “com a perspetiva de mais uma dezena até ao final do ano poderem vir a reformar-se”, disse.
A opção tem passado pela contratação de serviços e pelo convite aos médicos que se reformam para continuarem a trabalhar.
Sobre a recente abertura de concurso, alertou que é preciso “prudência” na análise das vagas.
O porta-voz da CUSMT afirmou que, no concurso aberto no passado dia 16, dos 22 médicos pedidos pelo Agrupamento de Centros de Saúde do Médio Tejo para integrarem o quadro, apenas foram atribuídas 12 vagas, mas três destinam-se a médicos que fizeram a especialização na região e “já estão a trabalhar” sem ficheiro atribuído.
“Ao integrarem o quadro, quer dizer que, dos 12 anunciados, três já estão a trabalhar. Há apenas uma atualização do vínculo profissional que têm com o Serviço Nacional de Saúde”, acrescentou.
“O que dizemos é que há que tomar medidas extraordinárias, imediatas, para resolver o problema do acesso a cuidados de saúde, sejam eles médicos do quadro ou prestadores de serviços”, declarou.
A CUSMT colocou, há alguns meses, “a possibilidade de se estudar a contratação de médicos estrangeiros”, afirmou, lembrando que, na região, há umas dezenas que ficaram no âmbito de protocolos assinados há uma década.
Para Manuel Soares, a concentração agendada para o final da tarde de hoje junto ao Centro de Saúde de Alcanena tem uma “importância até sociológica”, por pôr “as pessoas a discutir, a falar e a tomar posição sobre a questão da prestação de cuidados de saúde”.
Tem ainda como propósito levar a que os cidadãos “prestem mais atenção às questões da saúde, com práticas de vida saudável, com prevenção de doença e que permita também criar opinião pública, para discutir as formas de organização atualmente vigentes e os problemas que é preciso vencer, neste caso nos cuidados primários”, acrescentou.
LUSA/HN
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