Brasil tem variedade de patógenos e parasitas com potencial para novas pandemias

30 de Junho 2022

O Brasil abriga uma grande variedade de patógenos e parasitas – organismos capazes de causar doenças -, que poderão dar início a novas pandemias, segundo um estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na revista Science Advances.

A investigação científica liderada pela Fiocruz, com participação de especialistas da Universidade de Aveiro e Universidade de Coimbra, apontou que a grande diversidade animal e vegetal do Brasil, e os aumentos recentes nas vulnerabilidades sociais e ecológicas do país, associados aos cenários políticos e económicos, podem “atuar como incubadora de possível pandemia provocada por zoonoses (doenças infecciosas de circulação animal que podem ser transmitidas para os seres humanos)”.

“A partir de um modelo de avaliação que identifica diferentes interações entre os elementos que investigamos, conseguimos observar mais amplamente os processos que moldam o surgimento de zoonoses em cada estado brasileiro”, apontou, citada num comunicado, Gisele Winck, autora do artigo e investigadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do Instituto Oswaldo Cruz.

Segundo o trabalho publicado, três principais componentes de risco estão em foco na avaliação: vulnerabilidade, exposição e capacidade de enfrentamento.

“Dentro dos grupos principais, são observadas variáveis mais específicas como a quantidade de espécies de mamíferos silvestres, perda de vegetação natural, mudanças nos padrões de uso da terra, bem-estar social, conectividade geográfica de cidades e aspetos económicos”, referiu a Fiocruz.

“Os resultados colocam em evidência o desflorestamento e a caça de animais silvestres como fatores de grande relevância para o aparecimento de novas e antigas infeções. O estudo aponta, ainda, que todo o território brasileiro está suscetível a emergências ocasionadas por zoonoses, com uma maior probabilidade em áreas sob influência da floresta amazónica”, acrescentou.

Foram identificados 63 mamíferos que interagem com 173 parasitas propícios a causar pelo menos 76 diferentes doenças.

Todavia, o estudo ressaltou que para uma zoonose se tornar epidémica é necessário o alinhamento de diferentes fatores ecológicos, epidemiológicos e comportamentais, incluindo a mobilidade humana como um fator de importância.

“O fluxo humano é crucial no espalhamento de zoonoses, principalmente em infeções cuja transmissão ocorre de pessoa para pessoa após o salto de espécies, como é o caso da covid-19. A partir do momento em que esses patógenos alcançam cidades super espalhadoras, como São Paulo e Manaus, a transmissão é amplificada e exportada para diversas outras regiões”, explicou Cecília Siliansky de Andreazzi, também, pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios.

As investigação da Fiocruz apontou, ainda, a carne de caça como via crítica para o risco de “transbordamento” de doenças, quando patógenos exclusivos do meio animal passam a circular entre outras espécies.

Apenas oito estados brasileiros apresentam níveis baixos de risco de zoonoses: Pará, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe.

Participam do trabalho publicado na Science Advances investigadores de diferentes áreas da Fiocruz, especialistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Estadual do Ceará (UECE), Faculdade Maurício de Nassau, União Internacional para a Conservação da Natureza, Universidade de Aveiro e Universidade de Coimbra.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Bolsas Mais Valor em Saúde distinguem quatro projetos inovadores no SNS

Gilead Sciences, em parceria com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), a Exigo e a Vision for Value, anunciou os vencedores da 4ª edição das Bolsas Mais Valor em Saúde – Vidas que Valem, iniciativa que distingue projetos inovadores no Serviço Nacional de Saúde (SNS) focados na metodologia Value-Based Healthcare (VBHC). 

Dia Mundial da DPOC: Uma Doença Prevenível que Ainda Mata

No dia 19 de novembro assinala-se o Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), uma condição respiratória crónica que, apesar de ser prevenível e tratável, continua a ser uma das principais causas de morbilidade e mortalidade a nível global.

Patrícia Costa Reis: “Precisamos de diagnosticar mais cedo a XLH”

Numa entrevista exclusiva ao HealthNews, Patrícia Costa Reis, gastroenterologista pediátrica, investigadora e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – Hospital de Santa Maria -, esclarece os mecanismos e impactos da XLH (hipofosfatemia ligada ao cromossoma X). Esta doença genética rara provoca perdas de fósforo, originando raquitismo, deformidades ósseas, dor crónica e fadiga. A especialista destaca a importância do diagnóstico precoce, o papel crucial das equipas multidisciplinares e a mudança de paradigma no tratamento com a introdução de terapêuticas dirigidas.

Menos arsénio na água diminui mortes por cancro e doenças cardíacas

Um estudo recente publicado na revista científica JAMA revela que a diminuição dos níveis de arsénio na água potável está associada a uma redução significativa da mortalidade por doenças crónicas, incluindo cancro e doenças cardiovasculares. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights