Lili Zhang já tinha perdido o emprego em fevereiro quando a loja de roupa em que trabalhava fechou portas. “A situação estava tão má que nem tentaram vender a roupa que sobrou, deixaram-nos levá-la para casa”, disse a residente à Lusa.
Com Macau a atingir mais de 13.300 desempregados – o número mais elevado dos últimos 19 anos – a única fonte de rendimento que a residente encontrou foi o contrabando.
Lili chegou a atravessar a fronteira seis vezes por dia, levando sobretudo produtos ocidentais importados, que na China continental são mais caros devido aos impostos de consumo ou sobre bens de luxo.
“Antes era uma coisa só para velhos, até porque não pagam grande coisa, mas com tanta gente a perder o emprego, começaram a ser cada vez mais”, disse.
A polícia de Macau já tinha começado a apertar o cerco aos contrabandistas, que, diz Lili, começaram a trocar dicas sobre as fronteiras menos vigiadas e os horários menos suspeitos.
Mas o atual surto pôs um fim ao negócio, com a cidade vizinha de Zhuhai a impor uma quarentena de sete dias, em hotéis designados, para quem chega de Macau.
“O meu marido trabalha no casino Grand Emperor, mas agora mandaram-no para casa, sem salário. E nem sei se vai voltar a trabalhar”, admitiu Lili.
Mas a residente, natural de Guangxi, no sul da China, diz que a principal preocupação é com o filho de 7 anos, cujo ano letivo acabou mais cedo e que agora “passa os dias com os olhos colados à televisão”.
Desde o início do atual surto, em 18 de junho, que surgiram nas redes sociais vários grupos, cujos membros são sobretudo famílias com crianças, para a partilha de informações sobre como reservar um quarto nos hotéis de quarentena em Zhuhai.
“É uma corrida contra o tempo”, explicou Lisa Kuan à Lusa. “As marcações abrem todos os dias às 10 da manhã e em meros segundos os quartos ficam logo todos reservados em todos os hotéis”, disse.
No início de julho, Lisa conseguiu finalmente ser das mais rápidas e marcar um quarto em Zhuhai para ela, o marido e a filha de 3 anos.
O plano era, depois da quarentena de sete dias, ir passar o verão na aldeia de Sanxiang, a apenas 20 quilómetros de Macau, de onde são os pais de Lisa.
Poucas horas depois, o plano saiu furado. “Detetaram um caso aqui no meu prédio, que passou a ser uma zona amarela”, explicou Lisa, referindo-se à classificação como uma zona de risco, algo que impediu a família de passar a fronteira.
O sentimento de isolamento tornou-se ainda maior na quinta-feira, quando Zhuhai – cidade que enfrenta também um surto de Covid-19 – deixou de aceitar pessoal de Macau em quarentena.
Ainda assim, segundo dados oficiais da Polícia de Segurança Pública, nas últimas três semanas já abandonaram a cidade mais de 2.400 residentes.
Também os alunos da China continental tinham planeado regressar a casa durante as férias do verão.
Para os estudantes da Universidade de Macau em particular, o surto significou um duplo confinamento, com restrições impostas à entrada no ‘campus’ da instituição, em Hengqin (ilha da montanha).
Edmund é natural da província de Sichuan, no sudoeste da China, mas disse à Lusa que já desistiu de regressar à terra natal este verão. “Aqui há muitos estudantes na mesma situação”, lamentou.
Numa altura em que os residentes debatem nas redes sociais um eventual relaxamento das restrições, o jovem defende o apertar do confinamento, tal como aconteceu em muitas cidades na China continental, onde os habitantes estavam proibidos de sair de casa.
Edmund defendeu que, “se Macau não conseguir controlar este surto, então vai acontecer o mesmo que em Hong Kong”, que tem registado uma média de mais de 2.800 casos de Covid-19 por dia.
“Se for preciso fazer quarentena, então que turista quererá visitar Macau?” questionou o estudante.
LUSA7HN
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