“Eu não teria neste momento o problema das urgências obstétricas se [o Governo] aceitasse criar os centros de parto normal” e utilizasse os enfermeiros especialistas em saúde materna, disse à agência Lusa Ana Rita Cavaco, à margem de uma visita à Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do Hospital Santa Maria, em Lisboa.
Para Ana Rita Cavaco, os enfermeiros especialistas devem fazer “o seguimento completo” das mulheres com uma gravidez normal nos centros de saúde, o que aliviaria as urgências.
No caso de haver uma complicação na gravidez, disse, “evidentemente que se chama o médico”, mas não são precisos cinco ou seis médicos porque estão lá enfermeiros especialistas.
Segundo a bastonária, esta proposta da OE já foi colocada à ministra da Saúde, Marta Temido, mas ainda não obteve nenhuma resposta.
Na quinta-feira, a bastonária voltou a abordar a questão: “Vamos voltar a insistir até a exaustão”.
Esta tomada de posição, conhecida no início de julho, foi emitida pela Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem em Saúde Materna e Obstétrica, na sequência dos “constrangimentos severos” que têm ocorrido nos serviços de urgência de obstetrícia.
A criação de centros de parto normal junto dos serviços de obstetrícia, como propõe a Organização Mundial da Saúde, visa “rentabilizar os recursos humanos”, designadamente os enfermeiros especialistas, e garantir a acessibilidade aos cuidados de saúde materna e obstétrica.
A bastonária lembrou que existe uma diretiva comunitária que determina que os enfermeiros especialistas detêm competências para seguir autonomamente a gravidez de baixo risco nos centros de saúde, mas que nunca foi transposta em Portugal.
“E, portanto, os enfermeiros especialistas de saúde materna e obstétrica que em todo o mundo exercem plenamente as suas competências, em Portugal isso não acontece”, lamentou.
Não acontecendo, prosseguiu, “os médicos podem continuar a dizer que, em vez de serem precisos, três ou dois [nas urgências], têm que ser cinco ou seis, quando não tinham que ser se isto fosse feito em Portugal”.
Portanto, salientou, “queremos continuar a arrastar esta situação diária que é penosa, sobretudo, para os doentes, para as pessoas que se dirigem à urgência e, quanto a nós, não têm razão nenhuma de ser. Basta [o Governo] tomar decisões e decisões no melhor interesse dos doentes, e esta é uma delas”.
Neste momento, é um assunto da responsabilidade do Governo, que tem de decidir o que fazer com a proposta, salientou.
“Temos uma solução, nós apontámos um caminho e demos uma solução e estamos cá todos para trabalhar em equipa. Não podemos é ter no país determinadas classes profissionais que se arrogam ser donas da saúde dos utentes e depois não deixam as coisas evoluírem a bem daquilo que é a melhor prestação de cuidados para todos”, declarou.
“Quando todos pensarmos assim e não acharmos que somos donos do sistema de saúde ou dos próprios doentes, nós vamos ter efetivamente solução para muitos problemas”, rematou.
LUSA/HN
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