A carta foi hoje entregue no Ministério da Saúde e é assinada por 416 dos 1.061 internos da especialidade de Medicina Interna de todo o pais, segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que a divulgou e se solidariza com os médicos.
Tendo em conta as exigências laborais, os médicos consideram que a formação dos internos “se encontra comprometida”, uma vez que estão constantemente a assegurar as escalas de urgência, “desdobrando-se em turnos que deveriam ser garantidos por especialistas, em claro incumprimento dos critérios de idoneidade formativa de Medicina Interna (MI).
Por considerarem que as medidas até hoje aprovadas “são insuficientes” para a resolução das dificuldades sentidas diariamente na prestação de cuidados, os internos comunicam na carta que vão entregar a nível individual e junto das respetivas administrações hospitalares a minuta de recusa de realização de mais de 150 horas extra por ano.
Vão entregar também minutas de escusa de responsabilidade sempre que estiverem destacados para trabalho em urgência e as escalas deste serviço não estiverem de acordo com o regulamentado.
“Desta forma, exigimos melhores condições formativas e de trabalho, uma remuneração que reflita a nossa diferenciação, o cumprimento dos tetos máximos de horas extraordinárias e o cumprimento dos mínimos assistenciais nas equipas de urgência, de forma a poder dar resposta ao grau de exigência que nos é exigido, garantindo a segurança dos nossos utentes”, salientam na carta.
Os médicos realçam ainda que a MI é a especialidade médica sobre a qual assentam as estruturas hospitalares e os Serviços de Urgência de todo o país e alertam que sem a presença dos internos as escalas das urgências não se encontrariam regularmente preenchidas.
“Temos assistido a situações como as do Hospital São Francisco Xavier (Lisboa) em que as escalas de urgência de MI ficam repetidamente fragilizadas e reduzidas a internos de MI”, mas também noutros hospitais do país em que “se multiplica” o recurso a internos para preencher turnos de especialistas das escalas de urgência, “tendo esta prática sido tornada um hábito, em prejuízo da sua formação, nomeadamente no que respeita à restante atividade assistencial, como consulta e internamento”, lamentam.
Assim, salientam, “pouco tempo sobra” para cumprir “os números mínimos” exigidos nos currículos relativamente ao número de consultas, treino das inúmeras técnicas exigidas à especialidade, tempo para atividade como publicação de artigos e trabalho de investigação.
“Isto resulta numa formação deficiente, sufocada pelas exigências dos serviços de urgências e numa desmotivação crescente”, alertam.
Os médicos dizem que esta “espiral de insatisfação vai-se agravando todos os dias e é comum a várias especialidades médicas”.
LUSA/HN
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