“No período do fim do ano, que é exatamente o início do inverno, haverá menos disponibilidade por parte de colegas para fazerem horas extraordinárias de atendimento aos utentes para além daquelas a que estão legalmente obrigados”, adiantou à Lusa o presidente da ANMSP.
Segundo Gustavo Tato Borges, normalmente o período de maior dificuldade em gerir horários e escalas é no verão, devido às férias dos profissionais de saúde, mas o final deste ano pode registar uma “outra condicionante” que é a indisponibilidade em cumprir trabalho extraordinário para além das 150 horas anuais.
Esta recusa “deriva do esforço grande que foi pedido” durante os mais de dois anos da pandemia de Covid-19, adiantou o médico, ao sublinhar que existem “múltiplos profissionais de saúde, não só médicos, mas também enfermeiros e outros técnicos, que estão a recusar-se a fazer mais do que estas horas extraordinárias”.
“É possível que, em termos de recursos humanos no inverno, nós tenhamos menor capacidade de resposta do que tivemos nos últimos anos, em que os colegas nunca se recusaram a fazer horas extraordinárias porque sentiam que era a sua missão e agora, um bocado desapontados e sem acreditar muito que alguma coisa vai mudar de concreto, acabam por colocar essa recusa”, referiu Gustavo Tato Borges.
Além disso, tendo em conta que no inverno aumenta a circulação de vírus respiratórios, “muitos profissionais de saúde até podem faltar ao trabalho não necessariamente por estarem doentes, mas porque os seus familiares diretos estão doentes e precisam de acompanhamento”, referiu o médico de saúde pública.
“Este é mais um fator que pode vir a condicionar a disponibilidade dos profissionais”, alertou o presidente da ANMSP, ao considerar que, nos centros de saúde, “há ainda capacidade” para garantir a próxima vacinação da Covid-19 “sem um dano concreto no atendimento dos utentes”.
Para Gustavo Tato Borges, o Governo “ainda vai a tempo de conseguir pelo menos minimizar o possível impacto” das limitações de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no inverno, através da contratação de mais profissionais de saúde.
“Nós sabemos que há enfermeiros disponíveis para contratar, mas médicos é um pouco mais difícil, porque os que estão fora do SNS estarão a trabalhar em locais que lhes são mais vantajosos”, referiu, adiantando que uma das soluções poderia passar pela agilização do cumprimento de escalas, organizando as urgências, de modo a que ficassem concentradas em unidades municipais, como acontece com a psiquiatria.
Além disso, a criação da especialidade de emergência, com a respetiva carreira médica, poderia resultar em “mais médicos dedicados a esta área e mais disponíveis para fazer serviços de urgência, que são penosos”, disse o presidente da associação.
“Há várias soluções, umas mais fácies de implementar para serem usadas agora já neste inverno, e outras que têm de ser pensadas e estruturadas”, e que passam pela melhoria das condições salariais e de trabalho e dos recursos tecnológicos, salientou Gustavo Tato Borges.
LUSA/HN
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