“Quantos mais candidatos houver, maior discussão e interesse por parte dos nossos colegas”, disse esta tarde ao HealthNews Jaime Branco, diretor do Serviço de Reumatologia do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental e professor da NOVA Medical School, antes de entrar na biblioteca da Ordem dos Médicos para apresentar a sua candidatura. “Espero que a percentagem de médicos que votam possa ser maior, considerando o número [de candidatos] que se perspetiva”, acrescentou.
O candidato mostrou-se também satisfeito com duas notícias que marcam a atualidade na saúde: o novo ministro, Manuel Pizarro, e a escolha do Governo para o cargo de diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo. “Parece que o senhor primeiro-ministro leu o meu lema”: “devolver a liderança aos médicos”, gracejou. “Portanto, eu não poderia estar mais de acordo com estas duas escolhas”, completou.
Apesar de a nomeação de Fernando Araújo o deixar “menos preocupado”, relembrou que “ainda não conhecemos bem o texto do [novo] estatuto [do SNS]”. Aguarda, portanto, que sejam desvendados os seus contornos, e cogita a hipótese de Fernando Araújo estar a aguardar também. “As relações com o ministro da Saúde, por um lado, as relações com o primeiro-ministro, por outro, e as relações que a estrutura vai ter com o ministério das Finanças são fundamentais para a boa articulação de todo o processo.”
Questionado sobre as funções do CEO do SNS e as principais medidas a adotar no novo enquadramento, Jaime Branco recusou-se a “ensinar o padre-nosso ao vigário, sobretudo se o vigário for, como está muito anunciado, o Dr. Fernando Araújo”; “mas, há coisas que são importantes”. Primeiro, o candidato quer saber que relação é que esta direção do Serviço Nacional de Saúde vai ter com os organismos que já existem. Aqui, poderemos ter um problema: “Parece-me que existe uma certa repetição de funções, e isso não é, obviamente, vantajoso para nenhum serviço”, referiu Jaime Branco.
Para o candidato, o que é evidente é que “a gestão dos recursos humanos é fundamental”, bem como o “reinvestimento tecnológico”. “Eu acompanho o Serviço Nacional desde o início. Amanhã, [o SNS] faz 43 anos, e eu, em dezembro, faço 44 anos como médico. Portanto, eu era médico e fui cofundador. De facto, era muito prestigiante trabalhar no Serviço Nacional de Saúde – ainda é –, sobretudo porque era aí que estavam os maiores avanços tecnológicos. Hoje isso já não se passa, exatamente porque houve uma quebra no investimento tecnológico, entre outros, no Serviço Nacional de Saúde”, contou.
Por último, mas não menos importante, o candidato defendeu que é preciso reforçar “a base do Serviço Nacional de Saúde”: os cuidados de saúde primários. Este reforço permitiria diminuir “de imediato” a procura da urgência. Por outro lado, “as estruturas dos cuidados de saúde primários devem ter uma consulta de agudos”. Para tal, alguma burocracia terá de começar a ser despachada por outros profissionais, para libertar os médicos de família de tarefas “que não se justifica” terem entre mãos.
Ainda sobre as urgências, Jaime Branco disse que “algumas especialidades hospitalares também têm que ser reforçadas a partir de agora”. Isto com “planeamento” e “incentivos”, para que o SNS “possa reter” os seus profissionais. E não são precisas apenas melhores remunerações, alertou o candidato. É também importante, segundo o candidato, trabalhar com as tecnologias mais avançadas, melhores condições de trabalho, sentir-se recompensado e apostar noutras medidas menos evidentes, como creches nas instituições de saúde e estacionamento para os seus trabalhadores.
“A curto prazo não é possível ultrapassar tudo o que está a acontecer”, mas “é possível que aconteça uma melhoria”, porque não só o novo ministro da Saúde e Fernando Araújo poderão envolver-se numa profícua “discussão profunda com os organismos que representam as várias classes”, como “os médicos têm no seu ADN a palavra sacrifício”, pelo doente e pela sua profissão. Contudo, alertou, os médicos têm de sentir que o seu sacrifício é valorizado: “Se nos sacrificamos constantemente e vemos que esses sacrifícios são inúteis, evidentemente que a partir de uma certa altura os médicos dizem: ‘eu não quero fazer mais do que x horas extraordinárias por mês; já fiz e isto não resolveu o problema’”.
“Um dos principais reparos que se fazia ao anterior elenco ministerial era que realmente não dialogava, e não se trata aqui só dos médicos”, recordou Jaime Branco, que acredita que o novo ministro poderá abrir espaço para um virar de página. “O senhor ministro da saúde, noutras funções, tem mostrado que é um homem de diálogo. Nada me faz prever que assim não continue. Aliás, é uma necessidade absoluta”, acrescentou.
HN/Rita Antunes
0 Comments