“Um mercado de trabalho que queira acolher estas pessoas, que são totalmente válidas, tem de ser permissivo o suficiente, maleável e flexível o suficiente para que as pessoas tenham autorização, sem penalização ou represália, para poder continuar com os seus cuidados de saúde”, defendeu Ana Joaquim.
Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial Cancro da Mama Metastático, que se assinala na quinta-feira, a oncologista lembrou que, em muitos casos, com os avanços nos tratamentos, os doentes conseguem fazer uma vida normal, precisando, contudo, de alguma flexibilidade das empresas para poderem continuar os seus cuidados de saúde.
“Estes tratamentos têm sempre alguns efeitos secundários, tal como os tratamentos da diabetes têm efeitos secundários (…). Os doentes têm de ser controlados e ir ao hospital regularmente. Mas estamos a falar de pessoas perfeitamente autónomas, muitas vezes jovens”, disse.
A especialista recordou que, nalgumas fases da doença, “a pessoa pode ter que fazer um curso de quimioterapia e isso significa estar quatro ou seis meses, às vezes, a fazer tratamentos (…) que baixam as defesas e, provavelmente, vão impedi-la de ir trabalhar, pelo menos presencialmente, por causa do risco de infeção”.
Nestas circunstâncias, disse que é preciso uma mudança de mentalidades e recordou que, depois da pandemia, há hoje mais instrumentos que permitem, quando necessário, o trabalho à distância.
“É preciso ter esta flexibilidade com esta doença, como se tem com outras”, afirmou a responsável, insistindo: “Isto vai permitir que muitas mulheres e alguns homens que vivem com cancro da mama metastático se sintam mais integrados e sintam que estão a contribuir, ao mesmo tempo que quem os emprega também sente o mesmo”.
Médica oncologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e coordenadora do programa ONCOMOVE, que procura “dar resposta à necessidade de um serviço de saúde mais completo e abrangente na área da Oncologia”, Ana Joaquim afirmou que “nem todos os cancros de mama são iguais”, sendo a maior parte diagnosticada “em fase precoce”, quando a doença “ainda não foi para outros órgãos”.
“Infelizmente, nalguns casos em que se tratou a doença, inicialmente com tratamento curativo, com cirurgia, radioterapia e quimioterapia, quando necessário, ou tratamento hormonal, há situações em que a doença não está extinta e em que aparecem lesões (…) noutros órgãos. O mais frequente é o osso, mas também aparece no fígado, ou no pulmão, cérebro ou na pele”, explicou.
Ana Joaquim referiu que também há casos em que o cancro da mama é diagnosticado já numa fase metastizado.
Contudo, explicou, “os que têm apenas metastização óssea são aqueles em que as sobrevivências são maiores e em que se consegue, cada vez mais, falar em doença crónica”.
“Falamos muitas vezes de muitos anos a viver com a doença e a fazer tratamentos que, felizmente, cada vez mais são menos agressivos”, acrescentou.
LUSA/HN
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