O debate “Viver com Dor” contou com a participação de duas especialistas, a psicóloga clínica do Centro Multidisciplinar de Dor do Hospital Garcia da Orta, Cristina Catana, a Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, Ana Pedro e com o testemunho do campeão olímpico de triplo salto, Nelson Évora.
A abertura da sessão ficou marcada pelas palavras do presidente da Fundação Grünenthal, Walter Osswald, que sublinhou o papel da ciência e da investigação na promoção da qualidade de vida dos doentes.
Walter Osswald destacou, assim, o papel da Fundação Grünenthal na divulgação e distinção do trabalho científico e das boas práticas desenvolvidas no âmbito da Medicina da Dor.
Apesar de a dor crónica ter sido reconhecida, em 2001, pela European Federation of Pain, não apenas como um sintoma por si só, mas sim como uma doença, esta continua a ser negligenciada e alvo de estigma por parte da sociedade.
Na sessão, moderada por Isabel Santiago da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi feito um paralelo entre o famoso quadro do pintor Edvard Munch “O grito” e o sentimento de angústia, desespero, ansiedade e medo sentido todos os dias por quem vive na pele a dor crónica.
A Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor explicou que muitos doentes veem a sua vida condicionada pela doença, chegando a ser impedidos de trabalhar ou participar em reuniões familiares.
Questionada sobre as principais queixas dos doentes, Ana Pedro admitiu que “as principais preocupações dos doentes têm a ver com a acessibilidade aos cuidados de saúde e aos tratamentos diferenciados. Os doentes também se queixam da falta de abertura das empresas para fazer o ajuste às suas limitações.”
Na mesma linha de pensamento, a psicóloga Cristina Catana sublinhou que “viver com dor em Portugal é muito difícil… ainda é muito dicotomizada. Portanto, se não é provada através de exames clínicos, a dor fica muito silenciada e pouco compreendida”.
A especialista fala numa “pandemia invisível” que precisa de “mais serviços no Serviço Nacional de Saúde” e de “mais formação e sensibilização na comunidade médica”.
Cristina Catana alertou que a dor crónica provoca um forte sentimento de solidão e exclusão. “O quadro de Edvard Munch ilustra os gritos silenciosos da pessoa que vive com dor. A incapacidade provocada pela doença é dramática… A pessoa é obrigada a fazer o luto do padrão da sua vida, é obrigada a reajustar o conhecimento sobre o seu corpo e é obrigada a viver para além dos limites”, disse.
Escutar quem viveu na pele as limitações da dor foi um dos momentos que marcou a sessão. O campeão olímpico de triplo salto, Nelson Évora, foi o convidado especial do debate “Viver com Dor, Viver melhor” que partilhou como foi lidar com um dos principais inimigos dos atletas – a dor.
“Tive uma fratura de stress em 2009, que se arrastou até 2014. Tive momentos, neste período, em que pensei que nunca ia deixar de sentir essa dor. Tinha de lidar com a angústia de chegar ao treino, fazer tudo o que os meus colegas faziam e fazer um triplo salto em que iria sentir uma dor horrível. Tinha uma fração de segundos em que tinha de decidir se continuava ou se abortava o salto. Fazemos milhares de repetições e a diferença para o ‘ouro’ é, em mil saltos, abortar o mínimo de vezes possível”, revelou o atleta.
Apesar de afirmar que a dor é aquilo que os atletas mais temem, Nelson Évora realçou o papel dos fisioterapêuticas, médicos, psicólogos e investigadores da Medicina da Dor. “São os verdadeiros heróis destes país”. “Nós é que tornamos físico o trabalho da equipa multidisciplinar. Não o faço sozinho e tenho esta equipa responsável por me ajudar a entrar numa pista de atletismo e, seja qual for a idade, seja uma criança feliz por poder saltar sem dor. Cada medalha é uma montanha enorme que temos de escalar todos os dias”.
Apesar de garantir ser “um vencedor da dor”, o campeão olímpico deixa um apelo à comunidade médica. “Nunca devemos negligenciar a dor. É preciso que seja tratada de forma atempada”.
No final do debate foi atribuído o Prémio Grünenthal Dor 2021 a Mónica Sousa pelo estudo “Sensory Neurons have an axon initial segment that initiates spontaneous activity in neuropathic pain”. Neste trabalho identificou-se um novo compartimento nos axónios sensitivos – o segmento inicial do axónio – que demonstrou ser de grande importância no mecanismo de iniciação de atividade espontânea no contexto de dor neuropática. Com esta descoberta definiu-se um novo alvo terapêutico a considerar no tratamento da dor neuropática.
A Bolsa para Jovens Investigadores em Dor 2022 foi atribuída a Diana Rodrigues com o projeto intitulado: “The rostral ventromedial medulla as a key target of the maladaptive response to chronic inflammatory pain”. Este projeto tem como principal foco o papel da modulação descendente na cronificação da dor em doentes com osteoartrite.
HN/Vaishaly Camões
Infelizmente, ninguém fala do sofrimento, limitações, angústias, etc das causas da fibromialgia, que em alguns casos parece-me fruto de situações depressivas, provocadas pelas relações de trabalho, que pessoas doentes psicopatas, narcisismo e outras patologias, de destroem por dentro e por fora, que trabalha com essas pessoas, que além de doentes, são ruins até ao tutano, prepotentes, arrogantes e que não deviam estar a trabalhar, porque infernizam a vida dos seus subordinados … SOS …
O pior e ser negligenciado por um agente da saúde, quando nós queixamos das dores e, o mesmo ignora e nos rótula como louca. Já aconteceu comigo, fiz queixa no hospital onde fui atendida e o mesmo respondeu que o profissional em causa, tinha razão. Então não sei até que ponto, podemos ou não acreditar que, os profissionais de saúde estão preparados para tratar dores “invisíveis”.