“Somos poucos [internistas], temos má qualidade de vida e cada vez vamos ser mais necessários em função da evolução epidemiológica dos doentes que vamos ter nos hospitais. Portanto, é fundamental proteger esta especialidade”, defendeu em entrevista à agência Lusa o presidente da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da Federação Europeia de Medicina Interna.
Luís Campos disse que a importância desta especialidade “foi bem manifesta” na gestão da pandemia da Covid-19, com os médicos internistas a tratarem cerca de 80% dos doentes que não estavam em cuidados intensivos.
Na sua opinião, é necessário haver “uma discriminação positiva” para a Medicina Interna devido à sua “capacidade de versatilidade, multipotencialidade e conhecimento sistémico das doenças”.
“Tem que haver incentivos que reconheçam este papel fundamental, nuclear, da Medicina Interna nos hospitais, se não os estudantes licenciados cada vez mais vão abandonar esta especialidade e se isso continuar a acontecer será a derrocada da qualidade dos cuidados que nós prestamos, particularmente a nível do Serviço Nacional de Saúde”, alertou Luís Campos.
Questionado se a pressão sobre as urgências que se traduz numa sobrecarga de trabalho para os especialistas já está a ter reflexo na escolha da especialidade pelos médicos recém-licenciados – como se observou no concurso de 2022 para internato médico, em que 71 das 238 vagas para Medicina Interna ficaram por ocupar – Luís Campos comentou que a sobrecarga de trabalho “é um dos dramas”.
O ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna adiantou que várias especialidades têm vindo abandonar o serviço de urgência.
“Primeiro, tínhamos médicos de família nos serviços de urgência e retiraram-nos, depois as várias especialidades médicas têm conseguido pareceres da Ordem dos Médicos em que só devem atuar na sua área de especialidade e, portanto, isso retirou mais gente do serviço urgência”, adiantou Luís Campos.
Portanto, lamentou, “tem sobrado para os internistas o atendimento ao serviço de urgência, mas também a urgência interna de apoio aos outros serviços durante as 24 horas no hospital, criando uma sobrecarga muito grande”.
Além disso, todas as inovações organizacionais que têm que acontecer são lideradas pela medicina interna, disse, explicando que a população é cada vez mais idosa, tem múltiplas doenças e tem que ser observada por médicos generalistas, que no hospital são os internistas.
Nesse sentido, advertiu Luís Campos, “a carga sobre os serviços de Medicina Interna vai aumentar” porque vão estar presentes em todos os serviços, além de estarem na liderança dos programas de hospitalização domiciliária.
“Nós temos que implementar programas de gestão dos doentes crónicos, complexos, que retirem os doentes utilizadores frequentes das urgências”, rematou.
LUSA/HN
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