Faltam meios à Via Verde Seixal para que atendimento de saúde fique “à distância” de um telefonema

6 de Fevereiro 2023

João Malheiro fez 230 chamadas para marcar uma consulta na Via Verde Seixal sem que tivesse êxito, o que o levou a ter de se deslocar à unidade de saúde, o que evidencia uma das atuais fragilidades do projeto.

O projeto Via Verde Seixal nasceu há um ano para dar resposta aos cerca de 45 mil utentes sem médicos de família no concelho, situado no distrito de Setúbal, e para a marcação de uma consulta bastava um telefonema na véspera.

Contudo, nem sempre existe esta possibilidade porque, na verdade, à recém-criada unidade falta ainda uma central telefónica, uma fragilidade reconhecida pela equipa de saúde do projeto e pela direção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Almada-Seixal.

“Para vir aqui é uma dificuldade. Hoje fiz 230 chamadas para o número”, disse em declarações à agência Lusa o utente, enquanto saía da sala de espera da unidade já com a marcação da consulta feita.

Do atendimento individual, quer dos enfermeiros quer dos médicos, diz que não tem qualquer razão de queixa, mas que marcar uma consulta por telefone é sempre uma aventura para este utente sem médico de família há 14 anos.

“Ligo para o telefone e está sempre impedido”, disse.

A situação de João Malheiro é um dos casos que evidencia a urgente necessidade de uma central telefónica, o que tornaria mais eficiente uma equipa multidisciplinar que nasceu por vontade própria por se sentir inconformada com a existência de milhares de utentes sem possibilidade de atendimento especializado.

“Temos ainda questões técnicas a resolver. Temos de ter sistemas ágeis para gerir todo esse processo de atendimento telefónico. Centrais telefónicas digitais e a possibilidade de orientação em função de cada um dos pedidos. Isso é imperativo para um serviço destes que responde a cerca de 50 mil pessoas”, explicou em declarações à Lusa o diretor executivo do ACES Almada-Seixal, Alexandre Tomás.

O utente que liga e não é atendido tem dois sentimentos, explica: “Não esta lá ninguém ou não estão a atender”.

Na verdade, estão lá todos e numa equipa altamente motivada, adianta, mas sem uma central telefónica à altura não há mãos a medir.

Alexandra Fernandes, médica coordenadora e mentora do projeto, reconhece as dificuldades no contacto, mas ainda assim defende que os cuidados prestados agora são melhores do que há um ano.

Apesar de fazerem 150 consultas médicas presenciais por dia e mais umas 30 ou 40 por telefone, Alexandra Fernandes admite que não chega para o que a população pretende e há sempre alguém que fica de fora.

“Não é perfeito, mas é claramente melhor do que anteriormente, em que as pessoas iam para uma fila à porta do centro de saúde para uma consulta daí a três meses. Aqui marca-se uma consulta para o dia seguinte”, disse, em declarações à agência Lusa.

José Lourenço, da Comissão de Utentes do Seixal, reconhece a mais-valia de um serviço para uma população tão carenciada de médicos de família, mas chama a atenção para as dificuldades em marcar consulta.

“Apareceu de forma incipiente e neste momento, passado um ano, esta unidade já tem 16 gabinetes e os utentes são vistos de uma forma diferenciada. Têm prestado um belíssimo trabalho, o único problema que vemos é o acesso dos utentes à marcação de consultas”, explicou.

Recentemente, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, apontou este projeto como um dos exemplos transitórios para responder à falta de médicos de família suficientes para cada utente.

Há 1,4 milhões de portugueses sem médico de família atribuído nos centros de saúde e a situação é mais grave em Lisboa e Vale do Tejo, região onde uma em cada quatro pessoas (25%) não tinha médico de família no mês de novembro.

LUSA/HN

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