Portugueses aderem à greve dos enfermeiros no Reino Unido

7 de Fevereiro 2023

Enfermeiros portugueses no Reino Unido também estão a adeirir à greve da profissão, insatisfeitos com as condições de trabalho que os levaram a emigrar, afirmou a madeirense Tânia Alves à agência Lusa.

“Qualquer um dos colegas com quem falei, até de diferentes hospitais, porque conhecemos-nos uns aos outros, apoiam a greve e há muitos que estão na rua”, afirmou à Lusa à porta do University College London Hospital, em Londres, onde se formou um piquete de greve.

O sindicato Royal College of Nursing (RCN) iniciou esta segunda-feira uma greve de 48 horas em Inglaterra para exigir aumentos de salários acima dos cerca de 4,8 por cento propostos pelo Governo, invocando o poder de compra perdido devido à inflação, que se encontra há vários meses acima dos 10%.

Esta é a quinta vez que os enfermeiros britânicos fazem greve desde dezembro de 2022, quando a maioria dos membros do RCN votou a favor de paralisações pela primeira em 106 anos de história para pressionar o Governo a negociar.

Alves, que se encontra no Reino Unido desde 2013, disse que foi atraída para trabalhar no país não só por uma remuneração mais elevada, mas também com as possibilidades de formação e melhores condições de trabalho em geral.

“Ao longo destes 10 anos, vemos a diferença, porque o custo de vida subiu bastante e o sistema não está a acompanhar”, afirmou.

Uma consequência é a escassez de pessoal, com turnos incompletos regularmente, o que leva os enfermeiros a fazerem horas extraordinárias ou hospitais a recorrerem a agências externas de recursos humanos.

“Há muitos enfermeiros a desistir, existem muitas vagas, não existem incentivos para que os colegas mais novos se juntem à profissão [porque] é muito mais fácil as pessoas irem trabalhar para o [setor] privado”, lamentou.

A perda de colegas, sobretudo mais experientes, explicou, resulta numa sobrecarga dos atuais profissionais e uma descida da qualidade dos cuidados devido ao rácio mais baixo de profissionais de saúde por paciente.

Segundo estatísticas oficiais, existem cerca de 133.500 vagas por preencher no sistema de saúde público em Inglaterra (NHS England), equivalente a quase 10% do total de postos existentes.

“Para manter a qualidade do serviço [de saúde] implica um esforço pessoal imenso”, confia.

A perda de poder de compra é sentida no quotidiano, não só à subida do custo da energia e alimentação, mas também da renda, que disparou cerca de 50% no último ano.

“Neste momento somos três a partilhar a casa. Tivemos de acrescentar mais uma pessoa para ser mais razoável”, contou à Lusa, acrescentando que a maioria dos colegas partilha casa.

Atualmente num cargo de chefia como “charge nurse’, Tânia Alves, de 37 anos, sente-se frustrada e desanimada com a falta de reconhecimento sobretudo do Governo, que tem recusado negociações salariais.

Por isso, começa a questionar-se se deve voltar a Portugal, como fizeram outros compatriotas da profissão.

Segundo o Nursing and Midwifery Council (NMC) [Conselho de Enfermagem e Obstetrícia, a entidade reguladora da profissão], o número de enfermeiros portugueses registados caiu 21% em cinco anos, de 5.262 em março de 2017 para 4.157 em março de 2022.

No total do sistema nacional de saúde público britânico (NHS), estimam-se que trabalhavam 7.886 portugueses em junho de 2022.

“Depois de ter passado três anos a trabalhar durante o covid sem conseguir ver a minha família, se é para não darem condições de trabalho dignas, então eu prefiro voltar para casa”, desabafou Tânia Alves.

LUSA/HN

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