“Esta diminuição do número de utentes referenciados reflete o impacto da pandemia na área da saúde mental, designadamente decorrente da necessidade de reafetação de recursos físicos e humanos para tratamento de doentes com covid-19”, salienta um estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) divulgado esta quarta-feira.
O documento alerta que, após um aumento no volume de utentes que foram encaminhados para os hospitais de Portugal continental na área da saúde mental em 2019, no primeiro ano da pandemia se registou uma “redução acentuada nas referenciações em cerca de 30%”.
“A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo apresentou a maior variação negativa, neste período, correspondente a 36,1%”, indica ainda o estudo da entidade reguladora sobre o acesso a serviços de saúde mental nos cuidados de saúde primários.
Segundo os dados da ERS, o número de adultos referenciados para os cuidados de saúde mental hospitalares diminuiu de 28.378 para 19.760 entre 2019 e 2020, uma redução que se verificou também nas crianças e adolescentes, que passaram de 6.210 para 4.397 no mesmo período.
Além disso, verificou-se um decréscimo do número de consultas desta área em cerca de 14% nos centros de saúde em 2020, ano em que se “assistiu ao primeiro impacto” da pandemia de covid-19.
Na comparação entre estes dois anos, registou-se, por outro lado, um aumento de 2,5% no número de utentes (adultos e crianças) com diagnóstico de depressão e ansiedade, que a ERS admite estar também relacionado com a pandemia.
No cruzamento dos dados, o regulador constatou que, enquanto o número de consultas de psicologia e de consultas de cuidados de saúde mental diminuíram, o número de adultos e crianças diagnosticadas com depressão e ansiedade aumentou.
“Tendo em consideração que os diagnósticos de depressão/ansiedade de adultos e de crianças estão a aumentar e as consultas de saúde mental a diminuir, tal poderá indiciar a existência de dificuldade no acesso da população aos cuidados de saúde adequados”, alertou o documento.
O estudo refere ainda que o número de pessoas (adultos e crianças) com esse diagnóstico aumentou em Portugal continental de 1.442.033 em 2019 para 1.478.428 em 2020.
“Verificou-se que as regiões de saúde se encontram a desenvolver diligências para melhorar o acesso aos cuidados de saúde nas diversas faixas etárias da população, através do reforço dos serviços disponibilizados, nomeadamente linhas de apoio psicológico, gabinete de crise, consultas adicionais, consultas não presenciais, grupos de apoio à saúde mental infantil, entre outras atividades”, salienta a ERS.
Quanto aos recursos humanos, a entidade reguladora identificou escassez de profissionais na área da psiquiatria nos cuidados de saúde primários, salientando que “somente a Administração Regional de Saúde do Centro indicou ter psiquiatras” nas suas unidades.
A ERS sublinha ainda que, a nível europeu, Portugal “é o país com a mais elevada taxa de prevalência” de sintomas associados a problemas psicológicos.
Os dados referidos no estudo indicam que essa prevalência apresenta a taxa mínima de cerca de 5% na Irlanda, Polónia, Estónia, República Eslovaca e Finlândia, com o valor mais elevado de 23% a registar-se em Portugal.
LUSA/HN
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