Cientistas desenvolvem método de monitorização do cancro da bexiga a partir de análise à urina

23 de Fevereiro 2023

Uma equipa internacional de cientistas liderada pelo português Hugo Santos, da Universidade Nova de Lisboa (UNL), desenvolveu um método de monitorização do cancro da bexiga mais cómodo e menos dispendioso, a partir de uma análise à urina

O método, que consiste na análise de proteínas expressas na urina de doentes com cancro da bexiga, “permite perceber como o tumor está a evoluir e, se necessário, ajustar a terapia”, esclareceu à Lusa o bioquímico Hugo Santos, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da UNL, onde o trabalho foi realizado em colaboração com o Hospital de São José, em Lisboa, e instituições de Espanha e Estados Unidos.

Segundo Hugo Santos, coordenador do trabalho, este método, descrito num artigo publicado na revista da especialidade Communications Medicine, é mais cómodo para doentes, menos dispendioso para hospitais e é rápido e preciso.

Atualmente, o diagnóstico e a vigilância do cancro da bexiga são feitos através de uma cistoscopia, um exame endoscópico da bexiga “no qual é inserido um cistoscópio” (instrumento ótico) “pela uretra que permite examinar diretamente o interior da bexiga e, se necessário, remover o tumor”, explicou Hugo Santos, assinalando que, “sendo um método muito invasivo, que requer anestesia, é também muito dispendioso para seguir um paciente de três em três meses”.

A técnica estudada possibilita, de acordo com o investigador, “identificar e quantificar milhares de proteínas numa única análise” a uma amostra de urina, permitindo perceber quais os marcadores biológicos envolvidos “no desenvolvimento e progressão do cancro da bexiga, identificar alvos terapêuticos potenciais e desenvolver novas estratégias de tratamento”.

Para o estudo foram recolhidas amostras de urina de doentes – com ou sem reincidência de cancro da bexiga – que estavam a ser seguidos no Hospital de São José.

As amostras de urina foram colhidas antes de os doentes serem submetidos a uma cistoscopia e os resultados obtidos (se houve ou não progressão da doença) foram comparados com os resultados de diagnóstico e de análise laboratorial patológica.

Citado em comunicado da FCT/UNL, Hugo Santos realçou que os doentes foram monitorizados “com êxito”.

“Desta forma, é possível acompanhar o percurso individual da doença e, por isso, identificar quais são os doentes que realmente precisam de abordagens mais invasivas como a cistoscopia”, sublinhou.

O investigador adiantou à Lusa que a sua equipa pretende estender o método testado a outros tipos de cancro, como o renal e o da próstata, e procura apoios financeiros para que possa ser utilizado em clínicas e hospitais.

O projeto, batizado com a designação “Health2You”, contou com a participação de investigadores do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e das universidades de Vigo e Valladolid, ambas em Espanha.

NR/HN/Lusa

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Carina de Sousa Raposo: “Tratar a dor é investir em dignidade humana, produtividade e economia social”

No Dia Nacional de Luta contra a Dor, a Health News conversou em exclusivo com Carina de Sousa Raposo, do Comité Executivo da SIP PT. Com 37% da população adulta a viver com dor crónica, o balanço do seu reconhecimento em Portugal é ambíguo: fomos pioneiros, mas a resposta atual permanece fragmentada. A campanha “Juntos pela Mudança” exige um Plano Nacional com metas, financiamento e uma visão interministerial. O principal obstáculo? A invisibilidade institucional da dor. Tratá-la é investir em dignidade humana, produtividade e economia social

Genéricos Facilitam Acesso e Economizam 62 Milhões ao SNS em 2025

A utilização de medicamentos genéricos orais para o tratamento da diabetes permitiu uma poupança de 1,4 mil milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos últimos 15 anos. Só em 2025, a poupança ultrapassou os 62 milhões de euros, segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Medicamentos pela Equidade em Saúde (Equalmed) no Dia Mundial da Diabetes.

APDP denuncia falhas na aplicação do direito ao esquecimento para pessoas com diabetes

No Dia Mundial da Diabetes, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal alerta que a Lei do Direito ao Esquecimento não está a ser cumprida na prática. A associação recebe queixas de discriminação no acesso a seguros e crédito, defendendo que a condição clínica não pode ser um obstáculo à realização pessoal e profissional. A regulamentação da lei está em fase de auscultação pública, mas persiste o receio de que não garanta plena equidade.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights