“Temos um problema a montante”, frisou a presidente da APOGEN (Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares), esta quarta-feira de manhã, ouvida na Comissão Parlamentar de Saúde, por requerimento do PSD, sobre a falta de medicamentos.
“Embora o modelo económico tenha sido muito aplaudido (da globalização), conseguiu-se que a Europa ficasse sem qualquer fábrica de síntese química. Quando nós estamos aqui a falar de roturas, neste momento, não é de fábricas de produto acabado, porque essas existem na Europa, existem em Portugal, e temos capacidade para abastecer o mercado todo. Isto passa-se a montante, na origem”, explicou a médica. Nos últimos anos, com a pandemia e a guerra na Ucrânia, e com a política de “zero casos” da China, “fechou tudo; e se fechou, vai demorar tempo, agora, a normalizar”.
Na Europa, “perdemos o know-how todo. E uma fábrica de síntese demora 20 anos a ter gente capaz de fazer síntese”. “Esperemos que a Índia e que a China atinjam um equilíbrio em termos de trabalho”, acrescentou. Em Portugal, nas matérias-primas, “somos os últimos a ser fornecidos, e a preços exorbitantes”.
As roturas “são transversais e têm um denominador comum”: “preços à volta de cinco euros”. “Tudo o que é produto com baixo preço”, genérico ou não, “não há interesse comercial para o fazer”. Para agravar o cenário, além da falta de interesse comercial, há o problema do lead time de fabrico.
O aumento de 5% dos preços dos medicamentos mais baratos “foi um sinal que o senhor ministro deu”, “pela sensibilidade que teve em relação à falta de medicamentos”, mas “não evita as roturas, porque é muito curto”.
Por outro lado, a legislação do medicamento na Europa é “demasiado restritiva para fazer face a momentos difíceis” como este.
HN/RA
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