Microalgas de fontes termais vulcânicas são fonte promissora de proteínas

2 de Maio 2023

Os resultados da investigação representam um marco fundamental para o ProFuture, um projeto que escalona a produção de microalgas como um ingrediente sustentável e rico em proteínas para alimentos e rações.

Investigadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, desenvolveram com sucesso um método para produzir uma espécie de microalga promissora que cresce num ambiente improvável: as fontes termais vulcânicas do mundo. A Galdieria sulphuraria é uma espécie de microalga extremófila com pigmento azul que pode viver em condições extremas e representar uma fonte resistente de proteínas para a alimentação humana e animal do futuro.

À direita: Produção de Galdieria sulphuraria num fotobioreactor tubular piloto em AlgaePARC (Wageningen University and Research, Países Baixos); À esquerda: fontes termais

“Esta é a primeira vez que o perfil nutricional desta espécie foi quantificado e compreendido com precisão”, diz Pedro Moñino Fernández, estudante de doutoramento e investigador principal no projeto ProFuture, financiado pela UE. “Estamos agora mais perto de aplicações reais desta interessante e inexplorada microalga que poderá ter um impacto significativo na forma como o mundo se alimenta a si próprio”.

Sendo uma espécie extremófila, a Galdieria sulphuraria pode viver em ambientes extremos que normalmente não são propícios à vida. Embora a espécie tenha sido estudada durante décadas devido à sua resiliência e adaptabilidade, ainda não tinha sido examinada como uma possível fonte alimentar ou produzida em grande escala. 

A ProFuture estudou uma estirpe que cresce nas nascentes termais da região de Nápoles, em Itália, e encontrou os seguintes resultados:

Perfil nutricional: Grande potencial como fonte alternativa de proteínas. Verificou-se que a biomassa da Galdieria sulphuraria tinha um teor proteico entre 62-65%, o que é relativamente elevado em comparação com outros microrganismos algas e fungos com teores proteicos entre 30-70%. Além disso, as proteínas de Galdieria sulphuraria têm um bom perfil de aminoácidos, incluindo todos os aminoácidos essenciais. As proteínas são especialmente ricas em dois aminoácidos raramente encontrados em níveis tão elevados em proteínas não baseadas em animais: cistina e metionina.

Uma melhor fonte de pigmento azul: “As microalgas oferecem algumas vantagens fundamentais em comparação com outros microrganismos atualmente em estudo como potenciais fontes alimentares. São uma fonte natural de ácidos gordos essenciais, e espécies como a Galdieria sulphuraria estão entre as poucas fontes naturais de pigmento azul”, diz Iago Dominguez Teles, o gestor do projeto na Universidade de Wageningen.

A Galdieria sulphuraria contém uma alta concentração de um pigmento azul natural comummente utilizado como corante em cosméticos e alimentos. Este pigmento foi também considerado como tendo propriedades antioxidantes, bem como potencial como agente terapêutico. Em comparação com extrações da estirpe de microalgas já produzida comercialmente (a Spirulina), o pigmento azul extraído de G. sulphuraria demonstra maior estabilidade, aumentando o seu potencial em aplicações industriais. Além disso, um processo de produção mixotrófica é capaz de aumentar a concentração do pigmento azul.

Cultivo mixotrófico de microalgas: Os investigadores desenvolveram um processo de produção inovador utilizando a mixotrofia – combinando tanto a fotossíntese como matéria-prima à base de açúcar para estimular o crescimento de microalgas. Para validar ainda mais o processo para além da escala de bancada, puderam demonstrar com sucesso a produção piloto num biorreator de 1300 litros (1,5 metros cúbicos) na Universidade de Wageningen.

Próximas etapas no caminho para a utilização de G. sulphuraria nos nossos alimentos: A fim de explorar eficazmente os resultados promissores da Galdieria sulphuraria é necessária investigação adicional para avaliar a sua digestibilidade e para identificar quaisquer métodos de processamento adicionais que possam ser necessários para aplicações comerciais. A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) está atualmente a avaliar a segurança da Galdieria sulphuraria como um novo alimento para a população em geral e como um suplemento alimentar para adultos. Além disso, o extrato da Blue Galdieria é avaliado como um aditivo alimentar.

NR/HN/alphagalilleo

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Sociedade Portuguesa para a Inovação em Microbioma e Probióticos: “A resposta para muitos dos problemas de saúde está no intestino”

“Para além do eixo intestino-cérebro, que é o mais conhecido, existem outras relações do intestino com muitos outros órgãos, como o sistema cardiovascular, o sistema endócrino (influenciando a tiroide, a fertilidade, por exemplo), doenças reumáticas e até resistência à insulina.” Portanto, a “resposta para muitos dos problemas de saúde está no intestino, e a chave para os resolver está naquilo que comemos”, segundo a nutricionista Maria Inês Antunes, que integra os órgãos sociais da Sociedade Portuguesa para a Inovação em Microbioma e Probióticos (SPIMP).

Câmara de Porto de Mós entrega seis viaturas a USF do concelho

A Câmara de Porto de Mós vai entregar seis viaturas às unidades de saúde familiar (USF) do concelho, iniciativa que integra a descentralização de competências do Estado central na área da saúde, disse esta quarta-feira o presidente do município.

Fundo de Formação do SIM tem candidaturas até 31 de maio

O prazo de apresentação de candidaturas para o Fundo de Formação do SIM, cujo objetivo é contribuir para a formação pós-graduada dos Médicos Internos, associados do Sindicato há pelo menos um ano, prolonga-se até 31 de maio. Está disponível uma verba de 150.000€ para 2024.

Abertas candidaturas para bolsa ‘ReMission’

Já estão abertas as candidaturas para a bolsa ‘ReMission’, uma iniciativa que visa promover a investigação científica nas áreas das neoplasias de células B maduras.  Este é um projeto da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), em parceria com a Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH).

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights