Investigadores lançam no Porto centro dedicado a substituir, reduzir e refinar experimentação animal

3 de Maio 2023

O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) lançou o primeiro centro dedicado a substituir, reduzir e refinar a experimentação animal em ciência, foi esta quarta-feira anunciado.

Em comunicado, o instituto esclarece que o centro, intitulado “3R Knowledge Center de Portugal”, é o “primeiro no país” a dedicar-se à “substituição, redução e refinamento da experimentação animal (3R)”.

“Portugal era, até agora, um dos poucos países europeus que não tinha um ‘3R Knowledge Center'”, salienta o i3S.

Citada no comunicado, a investigadora que lidera esta iniciativa, Anna Olsson, esclarece que o centro “vai potenciar atividades de investigação e de formação em 3Rs com impacto na comunidade científica nacional”.

O princípio dos 3Rs na investigação em ciências de vida e saúde indica que os investigadores devem procurar substituir (‘replace’ em inglês e um dos três R da sigla), reduzir e refinar a experimentação animal.

Este princípio, apresentado pela primeira vez em 1959, está consagrado na legislação que regula o uso de animais para fins científicos a nível europeu e nacional (decreto-lei 113/2013).

“Usamos muito mais modelos alternativos do que os críticos acham, mas a experimentação animal não vai poder ser substituída tão cedo”, afirma Anna Olsson, acrescentando ser, por isso, “importante” investir na substituição, mas também no “refinamento” da investigação com animais.

Ainda que o princípio dos 3Rs seja utilizada na prática científica portuguesa, “não existia nenhuma estrutura organizada e dedicada ao tema no panorama nacional”, o que se concretiza agora com o lançamento do centro.

“Apesar de nascer no i3S, [a iniciativa] convida toda a comunidade científica em Portugal a juntar-se”, destaca a investigadora que acredita que o centro permitirá “disseminar conhecimento e providenciar apoio prático aos investigadores que procuram implementar os 3Rs na sua investigação”.

Em Portugal, foram já dados “muitos passos no processo de investigação” sem experimentação animal (recorrendo a métodos in vitro “menos complexos”), no entanto, a “simplicidades destes sistemas limita o tipo de perguntas que podem ser abordadas”, salienta o i3S.

Anna Olsson recorre à investigação biomédica – área que procura descodificar mecanismos de doenças e desenvolver terapias – para explicar que a mesma “precisa de ter modelos que simulam a complexidade do organismo, incluindo diferentes tipos de órgãos, circulação sanguínea e sistema imunitário”.

“É essencial demonstrar e partilhar conhecimento sobre alternativas, nomeadamente a utilização de organoides e órgão-em-chip, que oferecem modelos mais complexos que simulam melhor os sistemas complexos de um organismo”, afirma, destacando que o novo centro pretende ser “agregador de conhecimento” para “partilhar na comunidade científica” e torná-lo numa “prática global”.

LUSA/HN

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