Numa reunião realizada na segunda-feira, os membros da Santa Casa da Misericórdia da Lousã (SCML) decidiram em assembleia geral, por maioria, alienar o imóvel à instituição de Miranda do Corvo, liderada pelo médico Jaime Ramos, antigo deputado do PSD.
O edifício primitivo do Hospital de São João foi construído, no século XIX, com donativos particulares de um grupo encabeçado pelo benemérito João Montenegro, que fundou a colónia Nova Louzã, no estado São Paulo, com recurso a mão-de-obra livre numa época em que a escravatura ainda não tinha sido abolida no Brasil.
Os sócios presentes na sessão aprovaram o negócio com a ADFP por 29 votos a favor, um voto contra e uma abstenção.
“Entre 400 e 500 mil euros são para gastos imediatos, designadamente dívidas e outros compromissos. A restante verba fica cativa e depois veremos o destino a dar-lhe”, disse à Lusa um membro da mesa administrativa da SCML.
Uma das vozes mais críticas da venda foi Amândio Torres, antigo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, que contestou uma alegada falta de informação prévia aos irmãos da proposta de compra, o que o levou a votar contra.
A ADFP pagará à SCML um milhão e 350 mil euros, no momento da assinatura do contrato de promessa de compra e venda, mais 150 mil euros no ato na celebração da escritura, que deverá ser realizada dentro de um ano.
Ao abrigo do acordo com a mesa da Misericórdia da Lousã, cujo provedor, João da Franca, está no poder há 33 anos, o comprador começará em 2025 a entregar os restantes 250 mil euros, em prestações anuais de 25 mil euros e sem juros, a saldar até 2035.
No edifício do antigo Hospital de São João, cujo interior foi desmantelado há alguns anos por uma empresa arrendatária que nunca chegou a concluir as obras, a ADFP prevê instalar uma unidade de cuidados continuados, entre outras valências na área da saúde.
Uma empresa de Odivelas, com a qual a Misericórdia rescindiu o contrato de arrendamento, em 2020, não concretizou o projeto negociado, mas veio a receber uma indemnização de 85 mil euros para abandonar o imóvel, já parcialmente desmantelado.
A primeira verba a receber da ADFP destina-se a pagar dívidas aos trabalhadores e aos fornecedores da Misericórdia, cujas contas do exercício de 2022 registaram um saldo negativo de 167 mil euros.
Na década de 1980, na vigência dos governos de Cavaco Silva, o antigo Hospital de São João, importante exemplar da arquitetura da vila, foi demolido para no seu lugar ser construído o Centro de Saúde, que por sua vez seria desocupado na década passada.
Nesse período, o Estado pagou uma elevada renda mensal à SCML, até à transferência do Centro de Saúde para um novo edifício fora da área urbana da Lousã.
LUSA/HN
0 Comments