“Eu sou, de facto, um investigador que trabalha logo no início do processo da inovação, do processo da investigação. Eu estou ali no início, na criação das moléculas. Estou no design da molécula”, começou por explicar Miguel Castanho.
“Há um esforço enorme de sair da zona de conforto e conseguir acompanhar tudo o que se faz, e acompanhar todos os agentes do processo que vão falando linguagens muito diferentes.” É preciso ter feedback do fim de linha, dos clínicos que estão a acompanhar os pacientes e dos próprios pacientes, “para que possamos voltar ao início e melhorar o processo”, esclareceu o investigador do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa.
O problema é que, de facto, a cadeia é muito longa – “é muito longa em termos de número de passos, é muito longa em termos da interdisciplinaridade ou multidisciplinaridade e é muito longa em termos de tempo, também. Esse é o grande desafio”, partilhou o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
“Desenvolver novos medicamentos é um processo extremamente moroso, extremamente complexo e tem de ser melhorado. Não é comportável continuar com esta escala de tempos, com esta dimensão de processo e com estes custos astronómicos. Qual é o grande problema? É que ninguém sabe muito bem qual é a alternativa” que garante a segurança. “Não estou a falar de tempo de secretaria, estou a falar dos passos essenciais do processo”, alertou o investigador.
“Quando eu administro o fármaco, e sou obrigado a fazê-lo, num animal, o animal não me vai dar a resposta mais depressa só porque eu tenho pressa ou quero tornar o processo mais eficiente; mas o que é certo é que esse tempo é um tempo que se paga.” Por outro lado, “estamos a fazer fármacos ótimos para os ratos (todos os fármacos que usamos funcionaram em roedores, são ótimos), o problema é que as pessoas não são roedores”. Quando se passa para humanos, “paga-se uma fatura enorme de falhanço de moléculas, ao mesmo tempo que outras que falharam nos ratos poderiam ter funcionado em humanos, mas a nossa linha de montagem não contempla essa possibilidade. Nós temos que reinventar o sistema. Ninguém sabe é bem como. Mas também, se calhar, não estamos a dedicar tempo suficiente à invenção do sistema”, disse o investigador.
Miguel Castanho alertou ainda que fora da Europa as coisas estão a ser feitas de maneira diferente. “Vamos perdendo competitividade, e a Ásia sabe o que está a fazer em matéria de investigação.”
O evento Portugal Healthcare Innovation Summit foi organizado pela Bamberg Health, com o apoio institucional da Fundação Bamberg, em formato híbrido – online e no Eurostars Universal Lisbon Hotel.
HN/RA
Os asiáticos são líderes em inteligência artificial. A inteligencia artificial ainda não faz testes em humanos mas simula as hipóteses mais viáveis para evitar perdas de tempo. Computadores quânticos com impensáveis base de dados ao serviço dos investigadores. Onde em Portugal? Não creio! Cientistas, não nos abandonem, mas tentem internacionalizarem-se com forte uma network com outros destinos.