Vírus Sincicial Respiratório: o “Vírus Sem Reconhecimento” pode e deve ser prevenido, alerta Filipe Froes

7 de Novembro 2023

Esta manhã, Filipe Froes disse aos jornalistas que o vírus sincicial respiratório (VSR), apelidado de “vírus sem reconhecimento” pelo pneumologista devido à “face oculta nos adultos”, pode e deve ser prevenido. Os estudos indicam que as vacinas contra covid, gripe e VSR podem ser administradas no mesmo dia.

A pandemia Covid-19 revelou que havia um vírus a circular silenciosamente entre os adultos. O método de diagnóstico mais utilizado para detetar o vírus sincicial respiratório em crianças, os testes rápidos de antigénio, têm uma sensibilidade inferior a 10% nos adultos, “ou seja, a maior parte dos casos nós nem detetávamos”. “Não tínhamos a noção do seu verdadeiro impacto”, e foi através da generalização do teste PCR que pudemos compreendê-lo. Afinal, “só encontramos o que procuramos e quando utilizamos as ferramentas certas para procurar”, referiu Filipe Froes no workshop organizado pela GSK.

Atualmente, em relação ao VSR, “não temos os dados todos que temos por exemplo em relação ao SARS-CoV-2 e ao vírus da influenza sobre a carga de doença. Vamos ter mais, mas, sem qualquer dúvida, aquilo que já sabemos justifica amplamente toda a atenção que lhe estamos a dar, toda a caracterização que vamos começar a fazer, e relembro que, recentemente, a OMS e o European Center for Disease Prevention and Control estabeleceram uma nova rede de vigilância de vírus onde já incluíram o vírus sincicial respiratório e, o mais importante, justificaram amplamente a sua prevenção.”

Este vírus, que tem como os vírus da covid e da gripe maior atividade no outono e inverno, com o pico entre janeiro e fevereiro, tem uma particularidade diferente dos outros dois: “ele não tem uma grande variabilidade antigénica, como tem o vírus da influenza, mas não tem capacidade de provocar no hospedeiro uma imunidade total e permanente. Isto faz com que o mesmo vírus tenha capacidade de provocar várias reinfeções ao longo da vida”, salientou Filipe Froes.

Cerca de 10% das exacerbações com necessidade de internamento hospitalar nos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica já resultam da infeção pelo vírus sincicial respiratório; provavelmente, até 7% das exacerbações da asma em adultos com a necessidade de internamento hospitalar serão também da responsabilidade do VSR. Anualmente, na população com mais de 60 anos na União Europeia, estima-se que haja, pelo menos, 3 milhões de infeções, associadas a, pelo menos, 270 mil hospitalizações, que resultam em morte em 8% dos casos, o que corresponde a cerca de 20 mil óbitos, acrescentou Filipe Froes.

“A grande vantagem é que já o podemos prevenir”, recordou o pneumologista. “Porque um dos pilares do envelhecimento saudável é precisamente a imunoprofilaxia, a chamada vacinação ao longo da vida, que permite que as pessoas não tenham infeções que podem acarretar deterioração do seu estado de saúde, exacerbação das suas comorbilidades e, eventualmente, acréscimos graves em termos de evolução da sua doença (…), incapacidade catastrófica, além de, infelizmente, a pior consequência que pode acontecer, que é o falecimento”, sublinhou.

VSR, SARS-CoV-2 e influenza “trabalham em sinergia”: “infeções de vírus diferentes no mesmo aparelho respiratório vão enfraquecendo os mecanismos de defesa”. É a temida tripla epidemia. Para a combater, a vacina deve ser administrada no início da atividade ou, idealmente, duas semanas antes. E os estudos indicam que a administração pode ser feita em simultâneo. “Em teoria, não há qualquer défice de resposta imunitária (…) se nós administrarmos na mesma altura”, segundo Filipe Froes. “Nós cada vez mais temos que caminhar no sentido de simplificar e operacionalizar da maneira mais simples para as pessoas”, defendeu.

Com o envelhecimento, continuou o médico, “as mesmas infeções começam a ter cada vez mais impacto”, por isso os mais velhos são um grupo de risco. “Quando o hospedeiro está mais fragilizado, e estar fragilizado significa mais idoso, doenças crónicas e (…) as doenças com compromisso da resposta imunitária, qualquer vírus pode ter maior impacto. Por isso é que estas pessoas fazem parte daquilo que nós habitualmente designamos por grupos de risco”, explicou.

“Os três grandes motores do aumento da esperança média de vida foram precisamente três coisas: o saneamento básico, que inclui a água potável, o desenvolvimento dos fármacos antimicrobianos e as vacinas”, destacou Froes.

Para o VSR, os americanos já deixaram uma recomendação, que consiste numa decisão partilhada entre o profissional de saúde e o doente de acordo com a avaliação do risco das características do hospedeiro, e no Reino Unido já foi recomendada a vacinação a partir dos 75 anos.

Filipe Froes disse que, em Portugal, precisamos de uma melhor caracterização do impacto da doença, maior sensibilização junto dos profissionais de saúde, recomendação pelas sociedades científicas médicas, recomendação pelos médicos e exemplo dos profissionais de saúde.

HN/RA

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