Ordem dos Médicos cria comissão para avaliar condições das maternidades do país

8 de Dezembro 2023

A Ordem dos Médicos criou uma comissão para fazer a avaliação de cerca de 50 maternidades públicas e privadas do país perante “o cenário de fracasso absoluto” do Ministério da Saúde nesta matéria, revelou hoje à Lusa o bastonário.

“Vai ser um estudo exaustivo, tanto pela sua dimensão, são 50 locais de nascimento, como também pela profundidade do estudo, mas a Ordem dos Médicos entendeu que, já que o Ministério da Saúde não faz adequadamente o seu trabalho nesta matéria, devia dar um contributo técnico-científico numa matéria extremamente sensível e que já está há demasiado tempo com graves dificuldades”, disse Carlos Cortes.

Para o bastonário, o programa do Governo “está-se a revelar um absoluto fracasso” em termos de resposta na área da obstetrícia.

“Nós temos situações absolutamente dramáticas de não resposta, por exemplo, na grande Lisboa, no hospital São Francisco Xavier” que está a receber as grávidas do Hospital de Santa Maria, cuja maternidade está encerrada devido a obras.

O bastonário contou que esteve na quarta-feira num hospital de Leiria, “que está também a passar por uma situação dramática”, em que de quinta-feira a domingo não tem resposta nesta área.

Foi perante este cenário que a Ordem dos Médicos decidiu criar “uma comissão, um grupo de trabalho, para fazer a avaliação das maternidades públicas e privadas do país” que é composta por vários colégios, nomeadamente de ginecologia-obstetrícia, anestesiologia, pediatria, neonatologia, e contará com o apoio da Universidade do Porto, porque vai haver também um estudo estatístico.

Segundo Carlos Cortes, irão ser avaliadas as condições físicas, técnicas e de recursos humanos das maternidades, para verificar quais são os problemas e apontar soluções, nomeadamente em termos de profissionais, saber quantos são necessários para o país e em que locais, e os meios técnicos tecnológicos que são necessários para fazer o acompanhamento das grávidas.

Após a conclusão do trabalho, a OM enviará um documento com as suas recomendações ao Ministério da Saúde para as implementar “se assim o entender”.

Carlos Cortes espera poder entregar o documento em março ou abril, quando o Ministério da Saúde, do novo Governo, ”estiver pronto para começar as suas funções”.

Questionado pela Lusa sobre as dificuldades que as grávidas estão a ter devido ao fecho de maternidades por falta de profissionais para assegurar as escalas, Carlos Cortes exemplificou que médicos de unidades de Setúbal lhe relataram esta semana que as grávidas têm que ir fazer a ecografia ao privado porque não tem resposta no Serviço Nacional de Saúde naquela área.

Carlos Cortes disse ainda que os constrangimentos no SNS criam “um efeito de insegurança” nas grávidas, levando muitas delas a optar por serem seguidas logo de início no setor privado para, vincou, “não terem que estar nesta situação de indefinição e de insegurança do setor público, onde não têm um acompanhamento permanente e constante”.

“Se as maternidades públicas fecham vários dias da semana, não dão resposta, necessariamente as mães têm que ir para o setor privado”, lamentou.

“Portanto, sabemos das dificuldades, vamos agora apurar melhor quais são essas dificuldades, onde é que elas estão e como é que o Ministério da Saúde as vai poder resolver”, rematou o bastonário dos médicos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This