Em comunicado, a família adiantou que o cirurgião e professor emérito da Universidade de Cambridge, nascido em 1930, morreu de falha cardíaca, no sábado à noite, em Cambridge, no sudeste de Inglaterra.
Segundo declarações do seu filho Russel à BBC, Roy Calne tinha uma personalidade “assombrosa, um pouco excêntrica” e foi “um pai maravilhoso de seis filhos”, que tinham “muito orgulho” nele.
O especialista protagonizou o primeiro transplante hepático na Europa, realizado no Hospital Addenbrooke, em Cambridge, a 02 de maio de 1968, a uma mulher de 46 anos que tinha cancro no fígado, pouco tempo depois do primeiro transplante de fígado do mundo, nos Estados Unidos.
O cirurgião português João Rodrigues Pena fez parte da sua equipa, tendo sido o responsável, em 1992, pelo primeiro programa de transplantação hepática em Portugal, no Hospital de Curry Cabral, em Lisboa.
Entre 1967 e 1969, também o cirurgião português Eduardo Barroso trabalhou com Roy Calne, em Cambridge, enquanto bolseiro da Fundação Gulbenkian, no departamento de Cirurgia da universidade e no serviço de Cirurgia e Transplantação daquele hospital.
Roy Calne começou a interessar-se pelo transplante de órgãos na década de 1950, em parte inspirado pelo trabalho do seu pai como mecânico de automóveis, reconheceu mais tarde o cirurgião, mas na altura foi-lhe dito que o procedimento seria impossível.
Tal como o norte-americano Thomas Starzl, que realizou o procedimento antes, o cirurgião britânico tentou desenvolver tratamentos para evitar a rejeição dos órgãos, já que no início muitos dos pacientes acabavam por morrer.
A recetora do primeiro transplante de fígado realizado na Europa viria a morrer dois meses depois devido a uma infeção resultante dos medicamentos imunossupressores que lhe foram dados para prevenir a rejeição do órgão.
Desde aí, Calne focou-se em descobrir novas formas de evitar a rejeição de órgãos, tendo ajudado a desenvolver o inovador medicamento ciclosporina e sido o primeiro médico a administrá-lo em pacientes transplantados.
Os medicamentos contra a rejeição de órgãos aumentaram as hipóteses de sobrevivência dos pacientes transplantados, o que já salvou milhares de vidas desde a sua generalização, na década de 1980.
Calne também participou no primeiro transplante de órgãos triplo do mundo (de fígado, pulmão e coração), em 1986, e em 1994 conduziu um transplante de seis órgãos: fígado, rim, estômago, duodeno, intestino delgado e pâncreas.
Em 1986, o cirurgião foi condecorado com o título de Sir pela rainha Isabel II.
LUSA/HN
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