O oitavo episódio das Conversas em Rede da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospital (APDH) foi organizado em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Participaram os alunos do Curso de Especialização em Administração Hospital Inês Elvas, Marisa Costa, Filipa Gramacho e Maurício Alves, Ana Sofia Ferreira (consultora sénior do PlanAPP), Delfim Rodrigues (responsável pela hospitalização domiciliária no Serviço Nacional de Saúde) e Paulo Espiga, vogal executivo da ULS São José.
Com seis milhões de habitantes, a Dinamarca tem o mais alto nível de igualdade e riqueza do mundo e o menor índice de desigualdade social. O Sistema Público e Universal tem uma cobertura abrangente, dos cuidados preventivos aos curativos e de reabilitação, organizando-se em três níveis: o primário é o contacto inicial com o sistema de saúde, o secundário engloba os cuidados especializados (clínicas especializadas e saúde mental) e o terciário são cuidados de alta complexidade (hospitais universitários e centros de investigação médica), explicaram Inês Elvas e Marisa Costa.
No nível primário, todos os cidadãos têm um médico de clínica geral (GP) responsável por prevenir, diagnosticar, tratar e encaminhar para os cuidados especializados. “A única forma de aceder ao hospital, seja por motivos urgentes ou eletivos, é através do GP (exceção de situações de risco de vida iminente)”. Dividem responsabilidades o Estado, cinco regiões e 98 municípios. É um dos melhores sistemas do mundo, mas também um dos mais caros – impostos elevados para financiar o modelo e 10,6% do PIB, explicaram as alunas.
Delfim Rodrigues disse que, seguindo o exemplo da Dinamarca, Portugal tem de descentralizar a saúde, separar o prestador do pagador e, acima de tudo, abandonar preconceitos e tirar partido de toda a capacidade instalada.
Paulo Espiga destacou a descentralização da operação, centralização a nível macro, relação entre público e privado bem estruturada e cada um saber o seu papel no sistema e respeitá-lo.
Marisa Costa realçou a lista de prestadores apresentada aos doentes, que podem escolher; o facto de as pessoas não procurarem o serviço de urgência em primeiro lugar; a ação no envelhecimento, a preocupação com o exercício, a sinalização aos 60 anos pelo município, que oferece os cuidados necessários, e, ainda no âmbito do envelhecimento saudável, mas envolvendo também os mais jovens, a House of Generation – “modelo inovador que engloba a habitação, educação, cuidados sociais e cuidados de saúde, que potenciam os benefícios económicos e emocionais para todos os seus residentes”.
“O cidadão conhece o sistema e respeita o sistema porque o sistema também respeita o cidadão”, disse Maurício Alves. Na Dinamarca, segundo o aluno da Escola Nacional de Saúde Pública, há uma forte aposta na prevenção da doença e na promoção da saúde, bem como na assistência na comunidade; os papéis dos intervenientes estão bem definidos; as soluções têm foco na eficiência; as regras são respeitadas e valorizadas; o investimento é o necessário; a tecnologia é avassaladora, mas a capacidade financeira é respeitada e não há espaço para derrapagens; o digital é realmente um meio; valoriza-se a mudança e a participação dos profissionais; o hospital avisa prontamente o utente quando percebe que não tem capacidade de resposta.
Delfim Rodrigues sublinhou que os dinamarqueses não têm um Serviço Nacional de Saúde, mas sim um Sistema de Saúde.
Em Portugal, Delfim Rodrigues acredita que os municípios estão dispostos a assumir mais responsabilidades.
Paulo Espiga concorda que há vontade e necessidade de envolvimento dos municípios, mas há um princípio que o SNS tem de continuar a garantir: temos que ter equidade. Localmente temos de saber onde atuar; com os municípios, “sim, mas de uma forma coordenada”, defendeu.
O webinar foi moderado por Marina Caldas, da FDC Consulting. Participaram também Ana Escoval, vogal da direção da APDH, e Teresa Magalhães, coordenadora do Curso de Curso de Especialização em Administração Hospital.
HN/RA
“Saúde na Dinamarca.”
Importa acrescentar, que o acesso ao internato médico formação especializada:
– por candidatura direta ao local de formação e para a especialidade.
– Avaliação curricular e entrevista (valorização de experiência clínica prévia, investigação…).
– Internato médico especializado, avaliação por competências.
– Possibilidade de mudar de internato médico de forma simples, com validação do percurso já efetuado.
….
Nota a acrescentar: na Dinamarca existe e é reconhecida a especialidade de Medicina de Urgência (internato médico de 5 anos).
Lido o texto parece-me que Portugal não pode deixar de considerar o que os responsáveis dinamarqueses têem feito em favor da sua população. “O cidadão respeita o sistema porque o sistema também respeita o cidadão”.