Projeto de envelhecimento em Pombal reduziu a solidão em cerca de 60%

19 de Janeiro 2024

O projeto piloto de um centro educativo para seniores reduziu a solidão em cerca de 60% e a toma de medicamentos dos idosos em 57%, um ano depois, disse à Lusa o seu responsável.

O responsável do AGEING@LAB – Laboratório Internacional de Estudos sobre o Envelhecimento, Ricardo Pocinho, explicou que os utentes do Centro Educativo para Seniores, um projeto que está a ser desenvolvido no concelho de Pombal, distrito de Leiria, reduziram o índice de solidão para valores praticamente nulos.

“Há um ano era mais de 60% e hoje o número é muito inferior a zero vírgula qualquer coisa. Podemos dizer que não há sentimento de solidão e atrasámos a institucionalização destas pessoas. Conhecemos pessoas que tinham crises de ansiedade recorrentes, pânicos, medos e que hoje referem não as ter”, revelou o também presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGS).

Segundo Ricardo Pocinho, “57% das pessoas reduziram a toma de medicamentos, sobretudo para a ansiedade e a depressão”.

Nas 30 pessoas que iniciaram o projeto, foram identificadas 19 com esses sintomas. Um ano depois apenas três manifestaram ansiedade e uma sintomatologia depressiva.

Nascido em janeiro de 2023, numa parceria entre a ANGS, o Politécnico de Leiria e o Município de Pombal, o Centro Educativo para Seniores começou por avaliar 30 idosos não institucionalizados ao nível sociodemográfico ao nível físico, psicológico e social.

Um ano depois, o número chegou aos 120 participantes e pode chegar aos 500 com a extensão do projeto a mais pessoas da cidade e a mais freguesias do concelho de Pombal.

“O projeto tem como objetivo validar todas as atividades que fazemos, que têm de ter uma consequência. Avaliámos a qualidade de vida, do sono, a toma de medicação e o peso. Mas também avaliámos outras coisas, como a dor, o equilíbrio, o risco de queda, a fragilidade psicológica, de saúde ou física e social”, explicou Ricardo Pocinho.

O docente da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria adiantou que os resultados são “verdadeiramente impressionantes, onde se destaca a melhoria da qualidade do sono, sobretudo o sono reparador de descanso, e ausência de dores na totalidade das pessoas ao nível que eram conhecidas há um ano”.

“Temos fenómenos de pessoas que usavam ajudas técnicas, porque diziam que já não tinham força nas pernas e que hoje já as dispensam. Temos pessoas que voltaram a fazer algumas tarefas da vida diária, fruto das nossas atividades físicas”, revelou.

Relativamente à dor, Ricardo Pocinho referiu que os exercícios realizados atenuaram a sintomatologia na maioria das pessoas que deixaram de tomar demasiados anti-inflamatórios.

“Estamos no caminho certo, se temos pessoas que dormem melhor, que são mais felizes, menos deprimidas, que tomam menos medicação e que recorrem menos a serviços de saúde. Recuperámos sorrisos”, garantiu, salientando que não fazem milagres, mas tratam “as pessoas até ao final dos seus dias”.

Para o sucesso do projeto têm contribuído as oficinas multidisciplinares realizadas diariamente com os idosos. “São oficinas de escrita criativa ou de alfabetização, oficinas de estímulos cognitivo, físico e pelas artes”, informou.

O trabalho desenvolvido permitiu um “aumento de mais de 70% daquilo que são as vinculações sociais”. As pessoas passaram a ter mais vontade de sair de casa, de participar em momentos que antes não faziam. “Coisas tão simples como ir ao café ou almoçar fora”.

Ricardo Pocinho admitiu que os idosos ganharam vontade de viver e até já compram roupa nova para poderem ir apresentados para as atividades.

O presidente da ANGS acrescentou que se vão candidatar ao Portugal Inovação Social para alargar o projeto ao território das Terras de Sicó, que poderá abranger ainda os concelhos de Alvaiázere, Ansião (distrito de Leiria), Condeixa, Penela e Soure (distrito de Coimbra), num universo entre duas a três mil pessoas.

LUSA/HN

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