Realçando que é preciso “reforçar a capacidade de resposta” ao fenómeno, o médico considera que “tem havido muito pouca intervenção sobre este tema e mesmo os programas dos diferentes partidos são muito sucintos”.
Em entrevista à Lusa, João Goulão recorda que “os problemas da droga, dos comportamentos aditivos em geral, foram, em determinada altura, a primeira prioridade, até política”.
Porém, depois de, no final dos anos 1990, a “enorme atenção política, investimento, facilitação de recrutamento de profissionais para trabalharem nesta área” terem resultado no “sucesso” das políticas portuguesas para lidar com o fenómeno, “aquilo que parece ter acontecido é que os responsáveis políticos, de alguma forma, se convenceram que esta era uma área que estava controlada, que não era prioritária”, observa.
Destacando que as políticas para os comportamentos aditivos e as dependências não tiveram “cortes orçamentais significativos”, o presidente do ICAD nota, porém, que existem “pequenas entropias” que impedem que se assumam “determinados compromissos, que tardam em ser autorizados”.
O médico destaca o “empobrecimento das equipas”, nomeadamente as da área do tratamento, “em muitos casos completamente carenciadas de recursos humanos”.
E concretiza: “Houve decisões que impactaram a nossa capacidade de resposta, entre elas, por exemplo, a extinção do IDT [Instituto da Droga e da Toxicodependência], em 2012, na altura da intervenção da ‘troika’, e algumas dificuldades no recrutamento de novos profissionais ou pelo menos a não agilização de mecanismos para que isso pudesse acontecer.”
O médico reconhece que o atual momento político “de um certo impasse”, com a queda do Governo e a antecipação de eleições, “não facilita” a resposta. “Tem sido difícil”, admite.
Mais de 10,8 milhões de portugueses são chamados a votar, no domingo, para eleger 230 deputados à Assembleia da República, numas eleições a que concorrem 18 forças políticas, 15 partidos e três coligações.
Neste contexto, João Goulão garante que o ICAD, instituto público que entrou em funcionamento a 01 de janeiro, mas que só se consubstanciará a 31 de março, com a passagem dos profissionais das ARS [Administrações Regionais de Saúde, entretanto extintas] “está a fazer os possíveis para que, no dia 01 de abril, as coisas estejam relançadas”, acreditando que pode dar um “novo impulso” e criar “condições pata relançar políticas mais eficazes e respostas mais efetivas aos problemas”.
LUSA/HN
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