O cinema, também designado como sétima arte, tem como função “tocar” de algum modo o espetador. Mas até que ponto nos influencia, nos impacta? E pode ser o cérebro “condicionado” pelas imagens ou pelas cenas? Respostas que o neurocinema procura dar através do estudo de como somos modulados e como podem as cenas ser utilizadas para um determinado propósito. O investigador Sérgio Neuenschwander vem precisamente apresentar o cinema como forma de arte disruptiva que possibilita a invenção da realidade.
Partindo da premissa de que o cinema é uma forma de arte criativa e que apresenta uma construção única da realidade, ao combinar técnicas narrativas e visuais de contar histórias, os filmes criam uma rica experiência sensorial, permitindo que os espectadores sintam, vejam e se envolvam emocionalmente com o conteúdo cinematográfico. Essa perspetiva permite que o público mergulhe em primeira mão nos altos e baixos da narrativa, transcendendo a mera observação. Para Sérgio Neuenschwander, “a verdadeira beleza do cinema reside na sua capacidade de evocar a transformação e a ressonância da experiência sensorial, como se os espectadores fizessem parte de um mundo ficcional em curso”.
Na sessão a seu cargo, na manhã do dia 6 de abril, começará por explicar os mecanismos neuronais considerados relevantes para a representação de imagens, com base em dados experimentais no sistema visual, incluindo a retina, o núcleo geniculado lateral e o córtex visual. Em particular, focar-se-á no debate sobre a atividade neuronal melhorada versus a codificação temporal como mecanismo crítico para a ligação visual e a atenção.
Explicará ainda de que forma os filmes perturbam e desafiam as perspetivas convencionais sobre a representação de imagens, revelando a natureza construtiva da perceção.
A título de ilustração, apresentará exemplos de trabalhos colaborativos com Rivane Neuenschwander e destacará as contribuições documentais e ficcionais de Cao Guimarães. Através destas ideias, pretende estabelecer uma base para discutir como a nossa organização percetual interna impulsiona a criatividade em vários empreendimentos artísticos.
Miguel Castelo-Branco, neurocientista e membro da comissão organizadora do Simpósio, destaca a sessão de Sérgio Neuenschwander, “que ao longo da sua carreira tem feito cruzamentos sucessivos da criatividade na ciência e na arte, com fantásticas incursões em produções de vídeo que capturam a imaginação. É por isso que elevamos expectativas sobre esta intervenção que, a par das restantes que constam do excelente programa do 14º Simpósio, contribuem de forma indelével para a qualidade deste evento”.
PR/HN
0 Comments