Durante três sessões, os alunos do 10.º ano da Escola Secundária Rodrigues Lobo, em Leiria, participaram em palestras interativas, nas quais se falou sobre identidade, violência no namoro, gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis.
Orientadas por estudantes do 4.º ano de enfermagem, com idades à volta dos 22 anos, a conversa com alunos dos 16 aos 18 anos é uma vantagem, porque é uma conversa entre pares e desta forma a informação chega com menos censura, admitiu à agência Lusa a coordenadora do projeto, Teresa Kraus, docente na ESSLei e investigadora no ciTechCare – Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde.
A Lusa acompanhou a última sessão, na qual os alunos do secundário foram desafiados a mimetizar a transmissão de doenças. Foram distribuídos copos com um líquido transparente a oito alunos, que partilharam a substância entre si. No final, um teste evidenciou que alguns estavam ‘contaminados’, transmitindo, assim, a ‘doença’.
“Significa que, quem vê caras, não vê doenças sexualmente transmissíveis”, constataram os alunos, que também explicaram mitos e verdades sobre sexualidade.
Margarida Antunes, 16 anos, confessou que o facto de serem jovens quase da mesma idade permite transmitir melhor a mensagem.
“Quando são pessoas mais velhas não viveram as mesmas coisas que nós e não nos percebem tão bem”, assumiu.
Também Rita Bota, 16 anos, concordou, acrescentando que existe uma maior proximidade com pessoas que “ainda há pouco tempo viveram o mesmo”.
As jovens admitiram que já conheciam parte das informações transmitidas, mas as sessões permitiram clarificar determinados assuntos.
“Esta última sessão, que foi sobre as doenças sexualmente transmissíveis, deu para aprender melhor as consequências dos atos. Permitiu também alertar para a quantidade de doenças que existem e as formas de nos protegermos”, sublinharam.
Ao contrário do que algumas pessoas dizem, que “falar sobre este tipo de assuntos na escola pode incentivar” a ter relações sexuais, “é exatamente o contrário”, defenderam as alunas da ESFRL.
“Não é de forma alguma um incentivo, mas sim darem-nos informação e alertar. Faz-nos até refletir mais sobre tudo”, reforçaram.
Fátima Carvalho, coordenadora da saúde da ESFRL, confessou que aderiu ao projeto precisamente por ser desenvolvido entre pares.
“Os alunos olham para os professores como uma pessoa moralista, que não vai falar sobre tudo. Este projeto tem essa mais-valia, porque são alunos que saíram do secundário há pouco tempo e eles veem-nas quase como iguais”, referiu.
Sofia Bento e Bárbara Marques, de 23 e 22 anos, sentiram alguma inibição no início, que se foi perdendo com as sessões.
“Não queríamos invadir o espaço deles e também não queríamos que eles se sentissem reticentes connosco. Agora, são mais participativos e sentem-se mais confiantes. São temas um bocadinho sensíveis e dos quais nem sempre estão à vontade para falar, principalmente com os professores”, confessaram as estudantes do ensino superior.
Teresa Kraus afirmou que na “fase da adolescência há alguma impulsividade”, pelo que o projeto “ajuda a pensar antes de agir e a ter conceitos”, percebendo, por exemplo, que a “violência e o ciúme não fazem parte do namoro”.
As doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente a clamídia, gonorreia e sífilis, registaram um aumento entre os jovens, segundo os últimos relatórios epidemiológicos anuais do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
“Temos de habilitar os nossos adolescentes para que saibam ser responsáveis: a minha liberdade tem o tamanho da minha responsabilidade”.
O projeto “Adolescer com sentido” iniciou-se em 2018: “Agora, se calhar, temos de passar para um programa mais robusto”, rematou.
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