Políticos britânicos pedem desculpa e prometem compensar vítimas de sangue contaminado

21 de Maio 2024

O primeiro-ministro, Rishi Sunak, e o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, pediram hoje publicamente desculpa pelos sucessivos erros governamentais associados ao escândalo do sangue contaminado no Reino Unido nas décadas de 1970 e 1990, que causou 3.000 mortos.

Os dois políticos prometeram ainda colaborar para compensar as vítimas, na sequência da divulgação de um relatório sobre este caso que acusa as autoridades britânicas de encobrimento.

“Em nome deste e de todos os Governos que remontam à década de 1970, lamento profundamente”, disse Sunak, numa declaração hoje no parlamento.

O chefe do Governo britânico prometeu que serão pagas indemnizações, cujo valor será clarificado na terça-feira por outro membro do executivo, o qual pode ascender a 10 mil milhões de libras (11,7 mil milhões de euros, ao câmbio atual), segundo estimativas citadas na imprensa britânica.

Também o líder da oposição, Keir Starmer, reconheceu que os políticos falharam e prometeu colaborar com o Governo para acelerar o pagamento das indemnizações.

“Esse falhanço aplica-se a todos os partidos, incluindo o meu. Só há uma palavra: desculpa. E, com esse pedido de desculpas, reconheço que este sofrimento foi causado por irregularidades, atrasos e falhas sistémicas em toda a linha, agravados por instituições defensivas”, lamentou.

As declarações de Sunak e Starmer foram feitas após a publicação de um relatório resultante de um inquérito público, o qual acusou sucessivos Governos de gerirem mal o escândalo do sangue contaminado que fez cerca de 3.000 vítimas mortais no Reino Unido entre os anos 1970 e 1990.

Durante vinte anos, cerca de 30 mil pessoas que sofriam de hemofilia ou que tinham sido submetidas a intervenções cirúrgicas foram contaminadas com os vírus da hepatite C e do VIH através de transfusões de sangue.

“A dimensão do que aconteceu é horrível”, afirmou o antigo juiz Brian Langstaff, nomeado em 2018 para conduzir o inquérito que deu origem a um relatório de mais de 2.500 páginas.

Após sete anos de trabalho, durante os quais ouviu milhares de testemunhas e examinou dezenas de milhares de documentos, o antigo magistrado concluiu que a verdade sobre esta tragédia foi “ocultada durante décadas” e que o escândalo “poderia ter sido evitado em grande parte”.

“Este desastre não foi um acidente. As contaminações ocorreram porque os responsáveis – médicos, serviços de sangue e sucessivos Governos – não puseram a segurança dos doentes em primeiro lugar”, vincou Brian Langstaff.

Este escândalo é considerado o mais grave a afetar o serviço de saúde público britânico desde a sua criação em 1948.

Nos anos 1970, os doentes receberam um novo tratamento produzido nos Estados Unidos, mas parte do plasma utilizado foi encontrado em dadores de alto risco, incluindo reclusos e toxicodependentes, que eram pagos para dar sangue.

Como os fabricantes do tratamento misturavam plasma de milhares de doadores, bastava um estar contaminado para comprometer o lote todo.

Segundo o relatório, muitas das mortes e doenças poderiam ter sido evitadas se as autoridades governamentais tivessem adotado medidas para fazer face aos riscos associados às transfusões de sangue ou à utilização de produtos sanguíneos.

Desde a década de 1940 e o início da década de 1980 que se sabia que a hepatite e o vírus na origem da SIDA podiam ser transmitidos desta forma, segundo o inquérito.

Langstaff afirmou que, ao contrário de uma longa lista de países desenvolvidos, as autoridades do Reino Unido não asseguraram uma seleção rigorosa dos dadores de sangue nem o controlo dos produtos sanguíneos.

O resultado do inquérito dá razão a vítimas e familiares que fizeram campanha durante décadas para expor as falhas e obter compensação das autoridades britânicas.

LUSA/HN

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