Os estudos mais recentes, apresentados na conferência na cidade norte-americana de Chicago, envolveram o cancro do ovário e do esófago, além do linfoma de Hodgkin.
Em relação ao cancro nos ovários, investigadores franceses descobriram que é seguro evitar a remoção de gânglios linfáticos que parecem saudáveis durante a cirurgia para o cancro do ovário avançado.
Um estudo agora divulgado comparou os resultados de 379 pacientes – metade teve os seus gânglios linfáticos removidos e a outra metade não.
Após nove anos, não houve diferença no tempo de vida das pacientes e as que foram submetidas a uma cirurgia menos radical tiveram menos complicações, como a necessidade de transfusões de sangue.
Um outro estudo alemão analisou 438 pessoas com um tipo de cancro do esófago que pode ser tratado com cirurgia, tendo metade recebido um plano de tratamento comum que incluía quimioterapia e cirurgia ao esófago, que transporta os alimentos da garganta para o estômago. A restante metade recebeu outra abordagem que também inclui radiação.
Ambas as técnicas são consideradas padrão.
Segundo este estudo, após três anos, 57% dos pacientes que receberam quimioterapia e cirurgia estavam vivos, em comparação com 51% dos que receberam quimioterapia, cirurgia e radiação.
Uma comparação de dois regimes de quimioterapia para o linfoma de Hodgkin avançado revelou que o tratamento menos intensivo era mais eficaz para o cancro do sangue e causava menos efeitos secundários.
Ao fim de quatro anos, a quimioterapia menos agressiva manteve a doença sob controlo em 94% das pessoas, em comparação com 91% das que receberam o tratamento mais intenso.
O ensaio incluiu 1.482 pessoas em nove países – Alemanha, Áustria, Suíça, Países Baixos, Dinamarca, Suécia, Noruega, Austrália e Nova Zelândia – e foi financiado pela Takeda Oncology, o fabricante de um dos medicamentos utilizados na quimioterapia mais suave que foi estudada.
Estes estudos fazem parte de uma tendência a longo prazo para fazer-se menos – menos cirurgias, menos quimioterapia ou menos radiação – podendo ajudar os doentes a viver mais tempo e a sentirem-se melhor.
Há trinta anos, a investigação sobre o cancro consistia em fazer mais e não menos.
Num exemplo preocupante, de acordo com os médicos, mulheres com cancro da mama avançado foram levadas à beira da morte com doses maciças de quimioterapia e transplantes de medula óssea. No entanto, a abordagem não funcionou melhor do que a quimioterapia e as doentes sofreram.
Agora, numa tentativa de otimizar os cuidados oncológicos, os investigadores questionam se são necessários todos os tratamentos utilizados no passado.
É uma pergunta que “deve ser feita vezes sem conta”, disse a médica Tatjana Kolevska, diretora médica do Programa Nacional de Excelência do Cancro da Kaiser Permanente, que não esteve envolvida na nova investigação.
Muitas vezes, fazer menos produz resultados devido à melhoria dos medicamentos.
“A boa notícia é que o tratamento do cancro não só está a tornar-se mais eficaz, como está a tornar-se mais fácil de tolerar e associado a menos complicações a curto e a longo prazo”, afirmou, por seu turno, o médico William G. Nelson, da Johns Hopkins School of Medicine, que também não esteve envolvido na nova investigação.
LUSA/HN
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