Guadalupe Simões: “Reunião apenas serviu para o Ministério da Saúde promover essa chantagem tentando que nós suspendêssemos a greve”

19 de Julho 2024

A reunião entre o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e o Ministério da Saúde “correu muito mal”. Na quinta-feira, “o Ministério da Saúde procurou chantagear o sindicato dizendo que só negociava se a greve fosse suspensa”, contou ao HealthNews Guadalupe Simões, dirigente do SEP, que, por esse motivo, pelos enfermeiros, pelos doentes e pelo SNS, espera que haja uma forte adesão à greve nacional de 2 de agosto.

Os enfermeiros saíram mais uma vez do Ministério da Saúde de mãos vazias, sem a proposta de valorização da grelha salarial que o Governo deveria ter apresentado “em finais de maio”. Tem vindo a ser adiada, “assim como a resolução de outros problemas que estão por nós identificados e já colocados em sede de reunião no Ministério da Saúde”, acrescentou a enfermeira Guadalupe Simões. Como o SEP convocou greve para o próximo dia 2 de agosto, a reunião apenas serviu para “chantagear o sindicato”: o SEP disse ao HealthNews que o Governo só negociaria se a greve fosse suspensa, entendendo que, “enquanto decorrem negociações sindicais, é suposto não haver iniciativas de luta por parte dos trabalhadores e, no caso concreto, por parte dos enfermeiros”. “O Ministério da Saúde o que está a dizer é: comam e calem”, observou Guadalupe Simões.

Para Guadalupe Simões, “é um insulto que o Ministério da Saúde tenha propagandeado que a sua pretensão era valorizar a grelha dos enfermeiros e a proposta que apresentou signifique apenas 52 euros no início da categoria de enfermeiro, 52 euros no início da carreira de enfermeiro especialista e 52 no início da categoria do enfermeiro gestor, o que significa que ficam excluídos de qualquer valorização salarial quase 45 mil enfermeiros. E, portanto, isso é completamente inaceitável, é um insulto, é uma vergonha, assim como o posicionamento do Ministério da Saúde na sua consideração de que os sindicatos agora têm que, de facto, comer e calar durante os processos negociais.”

Suspender a greve, um direito dos trabalhadores, “é coisa que não poderemos fazer”, contestou Guadalupe Simões. “Ponto número dois, mais razões temos para fazer greve no dia 2, porque a proposta anunciada e publicitada por parte do Governo é verdadeiramente insultuosa. E, portanto, as reuniões de negociação com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses estão suspensas e só será retomado o processo negocial depois do dia 2 de agosto. Para governos que dizem que não são prepotentes e arrogantes, aí está a demonstração da arrogância, da prepotência e da tentativa, por parte do Governo, de impor as suas soluções para depois poderem dizer que atingiram os seus objetivos de valorizar este e aquele e qualquer outro grupo profissional. O que nunca poderemos admitir é que se desvirtue as razões pelas quais existem iniciativas de luta como as greves”, vincou Guadalupe Simões. Por outro lado, “o Governo já negociou com outros setores com pré-avisos de greve agendados. E, portanto, esta foi uma forma clara de o Ministério da Saúde pretender responsabilizar os sindicatos pelas propostas insultuosas que pretende apresentar para resolver problemas.”

O SEP apela a “uma forte adesão à greve no dia 2, para os enfermeiros exaltarem o seu descontentamento pelos problemas que não estão resolvidos, exaltarem o seu descontentamento por aquilo que é a proposta do Governo, e exaltarem o seu descontentamento por esta posição do Ministério da Saúde. Depois teremos uma reunião, e se por acaso o Ministério da Saúde ainda assim continuar a entender que o valor do trabalho dos enfermeiros só pode ser valorizado em 52 euros e, mesmo assim, só para alguns, muito poucos, então agosto será um mês de fortíssima e intensíssima luta por parte dos enfermeiros”, advertiu a dirigente.

Por último, o HealthNews pediu a Guadalupe Simões que falasse aos doentes: “Quando os enfermeiros estão em luta e fazem greve, e os utentes sabem disso porque são os enfermeiros que estão 24 sobre 24 horas nos serviços, prestam sempre serviços mínimos, portanto, nunca abandonam os serviços. Não há nenhum doente que tivesse alguma vez sido abandonado, ponto número um. Ponto número dois, os enfermeiros estão em luta porque é preciso reforçar o Serviço Nacional de Saúde. O que hoje as pessoas sentem é que não têm acesso a tempo e horas a cuidados de saúde, porque não há profissionais de saúde em número suficiente no Serviço Nacional de Saúde, e também sabem que não há profissionais de saúde em número suficiente no Serviço Nacional de Saúde porque os sucessivos governos têm degradado as condições de trabalho de todos os profissionais e, naturalmente, também dos enfermeiros, não valorizando as carreiras profissionais. E, pior do que isso, agora lembraram-se que os enfermeiros e os outros profissionais devem ser pagos pela quantidade de atos que praticam.”

“Quando o Governo diz que dá incentivos ou que dá suplementos financeiros se fizerem mais intervenções cirúrgicas, se tiverem mais doentes nas listas, se operarem mais doentes no âmbito dos programas do SIGIC, se, se, se, está sempre a falar de quantidade de atos, que não se traduz em acompanhamento das pessoas com a qualidade e segurança que qualquer pessoa deverá exigir. (…) todas as lutas que os enfermeiros fazem têm em vista garantir que o Serviço Nacional de Saúde volta a adquirir a qualidade que já teve e que os sucessivos governos têm vindo a degradar. Este vai pelo mesmo caminho porque, na realidade, basta ver o plano de emergência – o que pretende é atribuir fatias de cuidados para o setor privado”, apontou Guadalupe Simões.

HN/RA

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