Segundo a cooperativa de intervenção social Coolabora, que coordena a Rede Violência Zero, os números estão em linha com os do ano passado, mas regista-se um aumento das situações de violência física, sexual, na faixa entre os 18 e os 30, e nos idosos.
O número de vítimas idosas representa 18% do total.
Segundo a criminóloga Diana Silva, este ano o serviço prestou acompanhamento a 105 novos casos de vítimas adultas, 91% delas mulheres, em 40% das situações pessoas entre os 36 e os 55 anos, a faixa etária com maior incidência.
Diana Silva informou que este ano foram feitos 1.337 atendimentos, acrescentou que todas as vítimas são alvo de violência psicológica, que há um aumento de 30% na violência física, verificada em 71% dos casos, e que a violência sexual cresceu para os 20%.
“Os casos são cada vez mais graves e para as vítimas a situação está cada vez mais danosa”, realçou hoje a criminóloga, durante a apresentação do relatório deste ano até ao momento, numa cerimónia que juntou as entidades parceiras da rede no Salão Nobre da Câmara da Covilhã, no distrito de Castelo Branco.
A diretora executiva da Coolabora, Graça Rojão, acentuou que em 42% dos casos a violência é praticada após o fim da relação de intimidade, o que demonstra que “quando termina a relação o perigo cresce”, e em 36% durante a relação.
A responsável sublinhou que 40% das vítimas coabitam com o agressor e, neste contexto, em 35% dos casos há filhos ou menores a cargo expostos a episódios de violência.
No serviço especializado a crianças e jovens vítimas de violência doméstica, a Coolabora atendeu até outubro 101 pessoas com idades entre os três e os 18 anos, 32 casos novos este ano e os restantes que transitaram do ano anterior.
Nas crianças e jovens, adiantou a psicóloga Ana Raquel Bernardino, a violência psicológica manifesta-se em todos os casos, a violência física está presente em 27% das crianças e jovens acompanhados, o que significa um aumento, e a violência sexual subiu de 2% para 8% em vítimas menores.
No total, foram feitos 805 atendimentos, a maioria entre os sete e os dez anos, mas têm chegado muitos pedidos para acompanhar crianças entre os três e os seis anos.
Diana Silva destacou os frutos de um trabalho em rede e defendeu que a intervenção tem de ser adequada à realidade atual, por exemplo com mais visitas domiciliárias com as forças de segurança ou serviços de saúde.
A diretora executiva da Coolabora, Graça Rojão, vincou que a violência doméstica e de género “não é pontual, é um problema estrutural da sociedade”, e afeta todo o tipo de pessoas, “é absolutamente transversal”.
A responsável referiu que existe um peso da cultura patriarcal, o que “torna natural o que não devia ser”.
Graça Rojão acrescentou que a esperança numa mudança de comportamento da pessoa que agride “amarra as pessoas” a uma “roda infernal” de episódios que vão acabar por se repetir e mantém as vítimas num “ciclo que não tem fim”.
A diretora executiva da cooperativa de intervenção social frisou que muitas mulheres têm dificuldade em sair da relação porque existem filhos menores, uma casa partilhada, o peso da família e outros fatores que retardam a tomada de decisão de quebrar esse ciclo de violência.
“Não há desculpas para desresponsabilizar o agressor e culpar a vítima”, reforçou Graça Rojão.
A Coolabora assinala na tarde de segunda-feira, na Covilhã, o Dia Internacional Para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, com iniciativas no Jardim do Lago, às 18:00, de onde sai uma marcha até à Praça do Município.
LUSA/HN
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