Investigadores alertam para baixa literacia em saúde sobre produtos cosméticos

28 de Novembro 2024

Um estudo da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), sobre o conhecimento dos portugueses sobre cosméticos, revelou que os níveis de literacia nesta área são mais baixos do que na literacia geral em saúde, foi hoje divulgado.

Em entrevista à agência Lusa, a professora da FFUP Isabel Almeida, que coordenou o estudo, apontou que 75% a 80% da população analisada possui níveis de literacia em saúde inadequados a problemáticos sobre produtos cosméticos, percentagens “significativas e preocupantes” também quando comparadas com o número conhecido da literacia da população portuguesa sobre saúde em geral: 32%.

“Estes níveis são especialmente baixos no que diz respeito à avaliação e aplicação de informação de saúde relativa a estes produtos e ao domínio da prevenção da falta de uso, uso indevido, abuso e efeitos indesejáveis de produtos cosméticos”, disse a investigadora.

Com 1.158 inquiridos no total, este estudo junta duas amostras que foram analisadas separadamente.

Uma presencial de 249 pessoas que, de acordo com a docente, se pretendeu que fosse representativa da população portuguesa com quotas de género, idade, e distribuição geográfica e através de questionário feito em farmácias de todo o país, incluindo ilhas, e uma ‘online’, na qual participaram 909 pessoas.

Os questionários decorreram entre junho e novembro de 2023 e os resultados serão publicados em breve.

O questionário foi desenvolvido por adaptação do questionário geral para a literacia em saúde e a comparação de percentagens – os 75 a 80% face aos 32% – é possível graças a um estudo de 2021 feito por um consórcio europeu que avaliou a literacia em saúde de vários países.

Entre outros exemplos, a equipa de investigadores pediu às pessoas que “numa escala de muito difícil a muito fácil” indicassem como sabiam onde encontrar conselhos profissionais sobre cosméticos que diminuíssem problemas da pele, cabelo e orais ou informação sobre práticas saudáveis, conselhos e instruções profissionais, se compreendiam a informação que está nas embalagens ou folhetos ou como avaliam as vantagens e desvantagens das diferentes escolhas.

“Perante os resultados é mais do que notório que é preciso fazer campanhas de educação para a saúde especialmente dirigidas a determinados segmentos da população, os segmentos mais em risco como idosos e quem tem responsabilidade de promover literacia em saúde: os profissionais de saúde, farmacêuticos, médicos, dermatologistas e enfermeiros”, concluiu Isabel Almeida.

A investigadora também defendeu o envolvimento da Direção-Geral para a Saúde, e da Associação de Industriais de Cosmética, entre outras entidades.

À Lusa, a professora de cosmetologia contou que a FFUP sempre teve uma preocupação nesta área, razão pela qual, em 2017, criou – para combater a desinformação, validado pela academia portuguesa e com o envolvimento de investigadores de outras nacionalidades, nomeadamente brasileiros – o portal ‘Infocosmeticos’.

“Quisemos dar o nosso contributo para que existisse informação validada e confiável de acesso livre”, disse Isabel Almeida que, entre 2020 e 2024, também coordenou um outro estudo que pretendeu analisar a qualidade da informação nas redes sociais sobre produtos cosméticos.

Nos resultados partilhados com a Lusa, a equipa faz um alerta para a existência de informação confusa, imprecisa, misturada com publicidade e sem referir questões de segurança partilhada por influenciadores “da moda” que chegam a um grande número de pessoas, incluindo crianças.

“A população que acede às redes sociais é muito diversificada e inclui adolescentes que têm menor capacidade crítica e são mais influenciáveis. Pode haver más práticas do uso de cosméticos e inclusive deixarem de usar com receio de ingredientes considerados perigosos. Há informações alarmistas”, acrescentou a investigadora dando como exemplo o uso de protetor solar.

“Aplicar protetor solar e por cima creme é uma prática errada porque diminui a eficácia do protetor solar”, exemplificou.

Deixar de usar cosméticos, nomeadamente alguns que são importantes para a saúde, por receios infundados ou o excesso de utilização de produtos com consequências para a saúde da pele, bem como a tendência de fugir aos produtos comerciais e tentar fazer produtos em casa sem controlar a qualidade, são algumas das preocupações da equipa de investigação.

Neste estudo foram comparadas páginas de Instagram de influenciadores “populares” e de influenciadores com especialização na área cosmética.

Uma conclusão é a “forte” relação entre publicidade e a qualidade da informação transmitida: 75% dos ‘posts’ que continham publicidade de produtos cosméticos nos perfis populares incluíam informações confusas.

Em contraste, nos perfis de especialistas, apenas 25% dos ‘posts’ publicitários eram confusos, destacando o impacto da formação especializada na qualidade da comunicação.

Além da FFUP estes estudos envolveram a Faculdades de Medicina e de Letras da Universidade do Porto, e unidades de investigação UCIBIO, CINTESIS@RISE e CITCEM.

LUSA/HN

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