Investigadores estudam alternativa a antibióticos para combater bactérias multirresistentes

20 de Janeiro 2025

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) estão a apostar numa alternativa aos antibióticos para combater bactérias multirresistentes, foi hoje revelado.

Em comunicado, o i3S destaca que as infeções causadas por bactérias Gram-positivas, como a Listeria, “constituem um grave problema de saúde pública e um dos principais desafios da medicina moderna”.

A bactéria Listeria monocytogenes, um agente patogénico de origem alimentar, é responsável pelo maior número de casos de hospitalização e mortes na Europa, indica o instituto.

“Atualmente, assistimos ao aparecimento não só de novos agentes patogénicos, mas também de novas estirpes bacterianas com propriedades de virulência reforçadas e maior resistência aos antibióticos”, afirma.

A equipa do i3S que se tem dedicado ao estudo da Listeria descobriu que a presença de um açúcar na superfície da bactéria a torna “mais agressiva e mais resistente aos antibióticos”.

A presença desse açúcar deve-se exclusivamente a uma proteína designada RmlT.

“A proteína RmlT tem um impacto significativo na virulência bacteriana e na resistência antimicrobiana, já que é ela quem transfere o açúcar para as estruturas da superfície da bactéria, simultaneamente colocando fatores de virulência na parede bacteriana e impedindo o antibiótico de atuar eficazmente”, esclarece, citado no comunicado, o investigador que liderou o estudo, Didier Cabanes.

Para estudarem o mecanismo da proteína no agente patogénico os investigadores geraram uma “bactéria mutante sem o açúcar” e verificaram que ela ficou menos virulenta.

“Além disso, os antibióticos mostraram-se mais eficazes contra este mutante”, acrescenta o primeiro autor do artigo, Ricardo Monteiro.

Nesse sentido, os investigadores estão agora a testar uma droga que “não mate a Listeria, mas que consiga inibir a proteína RmlT tornando a bactéria menos virulenta e mais sensível aos antibióticos”.

O objetivo “não é a matar a Listeria, mas sim torná-la mais fraca para depois os antibióticos serem mais eficazes”.

“Uma vez que a RmlT é muito similar a outras proteínas existentes em bactérias patogénicas que normalmente são multirresistentes e muito graves em ambiente hospitalar, como os Staphylococcus, a droga em que estamos a trabalhar poderá ser adaptada para combater outras superbactérias”, acrescenta Didier Cabanes.

A descoberta, publicada na revista Nature Communications, “abre caminho para o tratamento de bactérias patogénicas multirresistentes”, assinala o instituto.

A investigação foi desenvolvida no âmbito do 6.º concurso CaixaResearch de Investigação em Saúde 2023, promovido pela Fundação La Caixa em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

NR/HN/Lusa

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Johnson & Johnson lança série de videocasts sobre cancro da próstata

A Johnson & Johnson Innovative Medicine Portugal lançou a série “Check Up dos Factos – À Conversa Sobre Cancro da Próstata”, um conjunto de quatro vídeocasts que reúne oncologistas e urologistas para discutir temas-chave como NHTs, terapias combinadas e estudos de vida real no CPmHS.

Ronaldo Sousa: “a metáfora da invasão biológica é uma arma contra os migrantes”

Em entrevista exclusiva ao Health News, o Professor Ronaldo Sousa, especialista em invasões biológicas da Universidade do Minho, alerta para os riscos de comparar migrações humanas com invasões biológicas. Ele destaca como essa retórica pode reforçar narrativas xenófobas e distorcer a perceção pública sobre migrantes, enfatizando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para políticas migratórias mais éticas

OMS alcança acordo de princípio sobre tratado pandémico

Os delegados dos Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram este sábado, em Genebra, a um acordo de princípio sobre um texto destinado a reforçar a preparação e a resposta global a futuras pandemias.

Prémio Inovação em Saúde: IA na Sustentabilidade

Já estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”. Com foco na Inteligência Artificial aplicada à saúde, o concurso decorre até 30 de junho e inclui uma novidade: a participação de estudantes do ensino superior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights