“Vai haver um benefício na vida social dos doentes”, acabando com separações familiares para tratamento no exterior, explicou Hélder Tavares, nefrologista que dirige o centro de diálise da Praia, desde que abriu, em 2014, também fruto da cooperação portuguesa para materiais e formação.
“Antes de 2014, os doentes renais tinham de ir viver para Portugal”, para fazer hemodiálise – o tratamento obriga a três sessões por semana –, e havia “uma rutura familiar e social”, passando a viver em condições de dependência assistencial.
A abertura dos centros de diálise na Praia, ilha de Santiago, e Mindelo, na ilha de São Vicente (em 2021), “resolveu parte do problema” e agora há possibilidade “de oferecer uma opção ainda melhor”.
O transplante é uma solução definitiva, acabando com a deslocação de pessoas de outras ilhas do arquipélago para aquelas onde estão os dois centros de diálise.
É o caso de Paulina de Carvalho, 59 anos, doente renal que há três anos teve de abandonar um companheiro e a vida de vendedora nas ruas do Sal, a ilha mais turística do país, para se mudar para a Praia, sem trabalho.
Deitada numa das macas do centro de diálise, recebe os últimos cuidados de uma enfermeira antes de se ligar a máquina que lhe vai filtrar o sangue, como um rim artificial, numa sessão que dura cerca de quatro horas.
“Todos os dias rezo para poder deixar este tratamento e voltar a trabalhar”, conta à Lusa.
O Hospital de Santo António, no Porto, é o parceiro deste projeto com Portugal, que inclui apoio à instalação de material cirúrgico em Cabo Verde e formação, com presença de cirurgiões especializados para se criar autonomia no arquipélago.
Quanto mais transplantes forem realizados na Praia, mais preparação haverá e mais rapidamente o país criará capacidade para realizar as suas intervenções renais.
Portugal vai também apoiar a realização de exames de compatibilidade, que exigem um laboratório especializado.
Nos últimos três anos, o centro de diálise instalado no Hospital Agostinho Neto, na Praia, o principal do país, tem acolhido regularmente 160 utentes em hemodiálise, enquanto no centro a operar no Mindelo são cerca de 120.
Não há listas de espera: os dois únicos médicos nefrologistas do país têm contado com o empenho de enfermeiros para criar novos turnos, permitindo que ambos os centros funcionem 24 horas por dia – com turnos de madrugada – para acomodar, sempre, a procura, que continua a crescer.
Com uma taxa de mortalidade entre 7% a 8%, as métricas que permitem avaliar os dois centros cabo-verdianos mostram bons resultados para a especialidade, ancorada nos mesmos manuais de boas práticas usados em Portugal.
Hélder Tavares gostava de contar com mais médicos nefrologistas em Cabo Verde.
“A cooperação pode também ajudar nesse ponto”, referiu.
A qualificação de recursos humanos foi um dos objetivos da criação do curso de medicina em Cabo Verde, mas “falta a segunda parte, a especialização dos médicos”, concluiu.
lusa/HN
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