Descoberta científica Pode Revelar Origens da Linguagem Humana

19 de Fevereiro 2025

Investigação realizada por uma equipa de cientistas da Universidade Rockefeller sugere que uma variante proteica exclusiva dos humanos, identificada como I197V, pode ter desempenhado um papel crucial no desenvolvimento da linguagem falada. 

As origens da linguagem humana continuam a ser um mistério e uma equipa de cientistas da Universidade Rockefeller descobriu uma variante proteica exclusiva dos humanos (I197V), que pode ter contribuído para o aparecimento da linguagem falada.

Os parentes próximos dos humanos modernos, como os Neandertais, tinham provavelmente características anatómicas na garganta e nos ouvidos que lhes permitiam falar e ouvir a linguagem falada, e partilham uma variante de um gene ligado à capacidade de falar.

No entanto, é apenas nos humanos modernos que se encontram regiões cerebrais aumentadas que são essenciais para a produção e compreensão da linguagem.

Após décadas de estudo, uma equipa de cientistas da Universidade Rockefeller descobriu uma variante proteica exclusiva dos humanos (I197V) que pode ter contribuído para o aparecimento da linguagem falada, noticiou a agência Efe.

No estudo, publicado na terça-feira na Nature Communications, a equipa descobriu que a introdução desta variante exclusivamente humana do NOVA1 — uma proteína cerebral que se liga ao RNA e é crucial para o desenvolvimento neuronal — em ratinhos alterou as suas vocalizações.

O estudo confirmou ainda que nem os Neandertais nem os denisovanos possuíam a variante I197V.

“Este gene faz parte de uma mudança evolutiva radical nos primeiros humanos modernos e aponta para possíveis origens antigas da linguagem falada”, destacou Robert B. Darnell, chefe do Laboratório de Neuro-Oncologia Molecular da Universidade Rockefeller.

“O NOVA1 pode ser um verdadeiro ‘gene da linguagem’ humana, embora seja certamente apenas uma das muitas alterações genéticas específicas do ser humano”, concluiu.

Adaptações anatómicas do trato vocal e redes neuronais complexas tornam as nossas capacidades linguísticas possíveis, mas a genética que as suporta é pouco compreendida.

O NOVA1 pode ser um dos genes envolvidos. Este gene produz uma proteína de ligação ao RNA específica do neurónio, essencial para o desenvolvimento do cérebro e para o controlo neuromuscular, e encontra-se numa vasta gama da biosfera, desde mamíferos a aves, mas não nos humanos.

Os humanos têm a variante I197V na cadeia proteica.

No estudo atual, a equipa utilizou a edição genética CRISPR para substituir a proteína NOVA1 comum em ratinhos pela variante humana I197V.

Descobriram que a variante humana não teve impacto na ligação do RNA relacionada com o desenvolvimento neuronal ou com o controlo motor.

Nos anos seguintes, estudaram o impacto nas vocalizações de ratinhos de várias idades em diferentes contextos e descobriram padrões vocais alterados entre ambos os sexos e machos adultos.

A possível influência do I197V na evolução humana foi o foco seguinte da equipa.

Para confirmar que não foi encontrado nos parentes humanos mais próximos – neandertais e denisovanos – a equipa comparou oito genomas humanos com três genomas neandertais e um genoma denisovano.

Não é de estranhar que os parentes arcaicos — dos quais se pensa que nos separámos há cerca de 250.000 a 300.000 anos — tivessem a mesma proteína NOVA1 que todos os animais não humanos.

De seguida, examinaram 650.058 genomas humanos modernos na base de dados dbSNP, um catálogo de variações de sequências curtas extraídas de pessoas de todo o mundo. Destas 650.058 pessoas, todas, exceto seis, tinham a variante humana.

“Os nossos dados mostram que uma população ancestral de humanos modernos em África desenvolveu a variante humana I197V, que se tornou então dominante, talvez porque conferisse vantagens relacionadas com a comunicação vocal”, sugeriu.

“Esta população deixou então África e espalhou-se pelo mundo”, acrescentou.

No futuro, o laboratório de Darnell irá investigar como o NOVA1 regula a função da linguagem com foco em perturbações da linguagem ou do desenvolvimento, como o autismo não-verbal.

lusa/HN

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