Cerca de 1 em cada 4 condutores apresenta sonolência excessiva

11 de Março 2025

A fadiga e a sonolência são fatores significativos que afetam a segurança rodoviária em Portugal, conforme revelado por um estudo recente da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) em parceria com a VitalAire. Este estudo, realizado em dezembro de 2024, envolveu 1002 condutores e destacou uma realidade preocupante que requer maior sensibilização e medidas eficazes de prevenção.

Um novo relatório conjunto da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) e da VitalAire, S.A., publicado hoje, intitulado “Fadiga, Sonolência e Distúrbios do Sono. Que impacto na Segurança Rodoviária? Uma análise da realidade Portuguesa”, destaca preocupações significativas sobre a fadiga e os distúrbios do sono entre condutores Portugueses e o seu impacto na segurança rodoviária. Este estudo, baseado em questionários online realizados entre 3 e 10 de Dezembro de 2024, inquiriu 1.002 condutores de veículos ligeiros de passageiros ou mercadorias que conduziram pelo menos alguns dias por mês nos 12 meses anteriores, com uma amostra estratificada por regiões NUT2 e grupos de idades/sexos para garantir representatividade, com um erro máximo de amostragem de 3.1% a um nível de confiança de 95%.

O questionário, desenvolvido em conjunto por PRP e VitalAire, S.A., cobriu informações sociodemográficas, atividade profissional, hábitos de condução, distúrbios do sono e comportamentos relacionados com a fadiga. Utilizou ferramentas padronizadas como a Escala de Sonolência Epworth para avaliar níveis de sonolência (classificando-os como normais/comuns, ligeiros/moderados excessivos ou severamente excessivos) e o Questionário de Berlim para avaliar o risco de apneia do sono, categorizando os respondentes como de baixo ou alto risco. A análise estatística incluiu estatísticas descritivas e testes de associação, com um nível de significância de 5% (p < 0.05).

  • Prevalência de Distúrbios do Sono e Sonolência: Aproximadamente 22.7% dos condutores relataram sonolência ligeira a moderada excessiva, e 3.5% relataram sonolência severamente excessiva, totalizando cerca de 26.2% com sonolência excessiva. 20.6% estavam em alto risco de apneia do sono, e 10.7% reportaram ser diagnosticados com um distúrbio do sono, sendo a insónia 5.7% e a apneia do sono 4.4%. Notably, 18.9% não estavam conscientes de quaisquer distúrbios do sono, e 20.2% não conseguiram identificar os principais sintomas da apneia do sono, indicando uma lacuna no conhecimento.
  • Comportamentos de Condução Relacionados com Fadiga e Sonolência: 65.0% admitiram conduzir mais de 2 horas sem parar pelo menos uma vez nos últimos 12 meses, um comportamento ligado ao aumento da fadiga. 58.0% conduziram quando excessivamente cansados ou fatigados pelo menos uma vez no mesmo período. 33.4% conduziram em estado extremamente sonolento (tão sonolentos que tinham dificuldade em manter os olhos abertos), e um preocupante 9.4% adormeceram enquanto conduziam. Estes comportamentos foram mais comuns entre condutores com sonolência excessiva, alto risco de apneia do sono, distúrbios do sono diagnosticados, trabalhadores por turnos, condutores profissionais e aqueles que conduzem entre 00:00 e 06:00.
  • Contra-Medidas e Eficácia: A maioria dos condutores utilizou medidas ineficazes quando se sentiam sonolentos ou fatigados, como abrir janelas ou ligar o ar condicionado (40.8%), parar para comer ou fazer exercício sem tirar uma sesta (34.6%), ou aumentar o volume do rádio (34.3%). Apesar de 82.5% reconhecerem que parar para tirar uma sesta é altamente eficaz, apenas 11.2% tomaram essa ação, revelando uma significativa lacuna entre conhecimento e comportamento.
  • Atitudes e Perceção de Risco: 86.9% concordaram que não devem conduzir quando sonolentos, e 91.4% reconheceram que a sonolência aumenta o risco de acidentes. No entanto, 9.6% ainda conduziriam quando sonolentos, e 18.4% acreditam poder conduzir com segurança quando fatigados, indicando uma desconexão preocupante.
  • Acidentes e Quase-Acidentes: 8.4% reportaram pelo menos um acidente nos últimos 12 meses, com 29.7% desses acidentes (afectando 2.5% de todos os condutores) atribuídos à fadiga, cansaço ou sonolência. 44.9% reportaram pelo menos um quase-acidente, com 20.9% desses (afectando 9.4% de todos os condutores) causados por fadiga ou sonolência. A maioria dos incidentes ocorreu à noite (36.0% dos acidentes, 44.7% dos quase-acidentes) ou de manhã cedo (20.0% dos acidentes, 10.6% dos quase-acidentes). Riscos mais elevados foram notados entre condutores jovens (18-24 anos), aqueles com distúrbios do sono, e condutores profissionais ou noturnos.

O estudo destacou variações demográficas significativas:

Grupos Etários: Condutores jovens (18-24 anos) tinham uma prevalência de 39.2% de sonolência excessiva, 2.6 vezes superior aos condutores com 65 ou mais anos (14.9%). Por outro lado, o risco de apneia do sono era 4.2 vezes mais alto em condutores com 65 ou mais anos (26.9%) comparado com o grupo mais jovem (6.3%). Condutores jovens também mostraram taxas mais altas de comportamentos de risco, com 48.1% a conduzir quando extremamente sonolentos e 19.0% a experienciar acidentes ou quase-acidentes devido à fadiga, comparado com menos de 4% em condutores com 55 ou mais anos.

Sexo: Não foram encontradas diferenças significativas na sonolência ou risco de apneia do sono entre homens e mulheres, embora os homens fossem ligeiramente mais propensos a conduzir quando extremamente sonolentos (36.4% vs. 29.8%).

Estado Profissional: Trabalhadores-estudantes (41.2%) e estudantes (37.0%) tinham taxas mais altas de sonolência excessiva, enquanto condutores profissionais (24.5% da amostra) mostraram 31.0% de sonolência excessiva e comportamentos de risco mais elevados, como 51.8% a conduzir quando extremamente sonolentos e 18.8% a adormecer ao volante, comparado com condutores não profissionais.

O estudo conclui que a fadiga e os distúrbios do sono são contribuintes maiores para acidentes rodoviários em Portuga, comparáveis a álcool, excesso de velocidade e distração, mas com menos atenção pública e política. Chama por ação urgente para abordar estas questões, enfatizando:

  • Uma prevalência significativa de distúrbios do sono e comportamentos de condução de risco, particularmente entre condutores jovens e profissionais, contribuindo para acidentes, especialmente à noite ou de manhã cedo.
  • A necessidade de campanhas de conscientização para educar condutores sobre distúrbios do sono, seus sintomas e a importância do tratamento, dado que 20% carecem de conhecimento.

As recomendações, alinhadas com as diretrizes da Comissão Europeia, focam-se em três áreas:

  • Condutores: Aumentar a conscientização através de campanhas que alertem para os riscos da fadiga, fornecer conselhos práticos de prevenção, e incluir educação sobre fadiga nos programas de formação de condutores. Aconselhar o uso de sistemas de deteção de fadiga em veículos.
  • Condutores Profissionais: Os empregadores devem assegurar o cumprimento das regulamentações de tempos de condução e descanso, gerindo horários de trabalho para permitir descanso adequado.
  • Infraestrutura: Implementar faixas de vibração em estradas principais e criar áreas de descanso seguras para facilitar pausas dos condutores.
  • Veículos: Desenvolver soluções de baixo custo para deteção e prevenção de fadiga, melhorando as características de segurança dos veículos.

Tabelas:

Categoria Percentagem (%) Notas
Sonolência Excessiva (Total) 26.2 22.7% ligeira/moderada, 3.5% severa
Alto Risco de Apneia do Sono 20.6 Avaliado pelo Questionário de Berlim
Distúrbio do Sono Diagnosticado 10.7 Insónia 5.7%, Apneia do Sono 4.4%
Conduziu >2 Horas Sem Parar 65.0 Pelo menos uma vez nos últimos 12 meses
Conduziu Quando Extremamente Sonolento 33.4 Pelo menos uma vez nos últimos 12 meses
Adormeceu Enquanto Conduzia 9.4 Pelo menos uma vez nos últimos 12 meses
Acidentes Devido à Fadiga 2.5 29.7% dos 8.4% totais de acidentes
Quase-Acidentes Devido à Fadiga 9.4 20.9% dos 44.9% totais de quase-acidentes

Outra tabela destaca riscos demográficos:

Grupo Demográfico Sonolência Excessiva (%) Alto Risco de Apneia do Sono (%) Acidentes/Quase-Acidentes Devido à Fadiga (%)
18-24 Anos 39.2 6.3 19.0
65+ Anos 14.9 26.9 <4.0
Condutores Profissionais 31.0 Não especificado Risco mais alto (ex.: 51.8% conduziram extremamente sonolentos)

Estas tabelas fornecem uma visão concisa dos achados críticos do estudo, facilitando a compreensão da escala e distribuição do problema.

Os achados sublinham que a fadiga e os distúrbios do sono são tão críticos para a segurança rodoviária como outros fatores bem conhecidos como álcool ou excesso de velocidade, mas recebem menos atenção pública e política. A publicação do estudo a 11 de Março de 2025 alinha-se com discussões em curso sobre segurança rodoviária em Portuga, potencialmente influenciando futuras regulamentações e iniciativas de saúde pública. O enfoque em condutores jovens e profissionais sugere que intervenções direcionadas podem trazer melhorias significativas na segurança.

PR/HN/MM

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