Província moçambicana de Nampula com quase mil casos de cólera desde outubro

13 de Março 2025

O surto de cólera na província moçambicana de Nampula provocou desde outubro quase mil infetados, disparando perto de 400 novos casos desde o final de fevereiro, além de 30 mortos, segundo dados oficiais.

De acordo as autoridades de saúde, a província, no norte de Moçambique, contava 579 casos acumulados desde outubro até final de fevereiro, com 29 óbitos, em três distritos, número que no balanço desta semana cresceu para um acumulado de 929 infetados e mais um óbito.

Num balanço feito pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), com dados até 11 de março, face às consequências da passagem esta semana do ciclone tropical Jude pela província de Nampula, é referido que o surto de cólera está agora ativo, localmente, em Mogovolas, na cidade de Nampula, em Murrupula e Larde.

“Constituem fatores de risco a fraca cobertura de abastecimento de água, deficiente saneamento do meio, incumprimento de medidas básicas de higiene individual e coletiva, desinformação sobre a doença”, lê-se na mesma informação, na qual se acrescenta que o setor da Saúde em Nampula, bem como o Governo e parceiros, está a “desenvolver ações para conter a propagação do surto”.

As autoridades de saúde na província de Nampula manifestaram há cerca de uma semana preocupação pelo nível de desinformação sobre a cólera, surto que afeta a província desde 2024, após vandalização de mais um centro de tratamento da doença.

“Tivemos a vandalização do nosso centro de tratamento da cólera [no distrito de Murrupula], felizmente não chegaram a vandalizar as tendas (…), mas o que nos deixou mais preocupados é o nível de desinformação que temos a nível do distrito”, disse em 07 de março a diretora distrital da saúde em Murrupula, Énia Zunguza.

O surto de cólera foi declarado em 17 de outubro, em três regiões das províncias de Nampula e na província da Zambézia.

De acordo com a representante do setor, os profissionais da saúde são proibidos de ir às comunidades, o que gera insegurança entre a classe e impede o tratamento da doença.

“Ninguém está seguro porque a informação que circula nas comunidades é que os serviços de saúde é que estão a propagar esta cólera, o que não constitui a verdade”, disse.

As autoridades de saúde de Nampula já tinham admitido em fevereiro que mitos e desinformação comprometem a meta de vacinação contra a cólera em Mogovolas, entre os distritos mais afetados naquela província do norte.

As autoridades pretendiam atingir 197.999 pessoas, mas acabaram vacinando 169.865, o que corresponde a 85,8%, afirmou na altura à Lusa Samuel Carlos, representante do Serviço Provincial de Saúde em Nampula.

Devido à onda de desinformação, com as comunidades a acusarem os técnicos de saúde no terreno de estarem a propagar a doença, populares de Mogovolas destruíram o Centro de Tratamento da Cólera, bem como o bloco operatório do parceiro estratégico do Governo, a organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras.

lusa/HN

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