Crianças de 76 nacionalidades com tratamentos dentários gratuitos em Lisboa

20 de Março 2025

Mais de 21.500 crianças e jovens, de 76 nacionalidades, receberam tratamentos dentários gratuitos no Serviço Odontopediátrico de Lisboa (SOL), que abriu portas em 2019 e exige como únicos requisitos ser menor de idade e residir na cidade.

Situada na Avenida Almirante Reis, uma das zonas com maior concentração de imigrantes na capital, esta clínica de medicina dentária da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa destaca-se por promover os conceitos de inclusão e multiculturalidade.

Desde que abriu em agosto de 2019, já foram ali realizadas mais de 155 mil consultas, numa média de 180 por dia, disse o fundador do SOL, André Brandão de Almeida, durante uma visita da agência Lusa ao serviço, a propósito do Dia Mundial da Saúde Oral, assinalado hoje.

Nas salas de espera, crianças e jovens acompanhados pelos pais aguardam a sua vez, distraindo-se com os filmes de animação que passam nas televisões espalhadas pelo espaço.

Há dois anos que Bianca Henriques, 16 anos, é acompanhada no SOL. À Lusa, contou que “tinha a mordida torta, dentes fora do sítio e outros que precisavam de nascer e não tinham espaço”, o que a obrigou a usar aparelho ortodôntico.

Até colocar o aparelho, que retirou na terça-feira, Bianca realizou os exames e as consultas necessárias e será acompanhada até completar os 18 anos.

Bianca estava acompanhada pela mãe, Carla Santos, que destacou a importância do SOL num país em que ir ao dentista é quase um luxo, considerando que seria “uma ação de grande valor” alargar este serviço a todo o país.

Além disso, os profissionais “são muito simpáticos, sempre disponíveis”, disse Carla Santos, sublinhando que “tem sido uma experiência muito positiva e uma ajuda muito grande”.

Solange Semedo acompanhava o filho Lucas, de 10 anos, que também vai colocar aparelho, porque tem “os dentes um bocadinho saídos”, estando já a fazer os moldes e as fotografias para iniciar o processo.

A mãe contou que tem mais dois filhos acompanhados no SOL, um serviço que considera fundamental, sobretudo, para quem tem uma família grande.

Cláudio Navalha, 20 anos, já ultrapassou a idade limite para ser ali acompanhado, mas a colocação do aparelho pouco antes de fazer 18 anos dilatou esse prazo.

Desde os 16 anos que Cláudio é acompanhado no SOL, por recomendação do antigo dentista, e confessou que “foi o melhor sítio” de medicina dentária onde já esteve e onde perdeu o medo de ir ao dentista.

“Ontem já estava contente porque hoje vinha ao dentista. Tornou-se um hábito”, comentou, com um grande sorriso.

Diretora clínica do SOL, Carina Simão realçou a importância deste serviço ao prestar assistência gratuita, independentemente da condição social ou económica da família da criança.

“É um serviço que tem esta grande mais-valia de garantir cuidados de saúde oral a todas as crianças e jovens isentas de custos adicionais para as famílias”, complementando uma resposta ainda “muito deficitária” no Serviço Nacional de Saúde”.

Destacou, por outro lado, “a sorte” de o serviço ter “um vasto leque de nacionalidades”, desde crianças do Brasil, Canadá, Inglaterra e até do Iémen.

“Temos uma multiculturalidade muito grande, também, um bocadinho ao encontro da resposta que também vemos na cidade e no concelho de Lisboa, com cada vez mais crianças e famílias residentes de uma outra nacionalidade”, sustentou.

Às vezes, a língua pode tornar-se um desafio e uma barreira, para os profissionais, mas que são ultrapassados com ajuda do familiar e falando inglês “praticamente diariamente”.

Todos os dias chegam ao SOL cerca de 15 novos utentes que são acolhidos por uma equipa com 14 médicos dentistas, três higienistas, 14 assistentes dentárias e quatro técnicos administrativos, distribuídos por 11 gabinetes adaptados às idades e às especialidades.

“Todos os dias temos primeiras consultas e isso é uma coisa que nos deixa muito feliz e que nos permite reafirmar e ter a consciência de que estamos a fazer um bom trabalho”, disse a responsável.

Assinalou que as famílias estão a levar as crianças em idades cada vez mais precoces o que permite fazer este acompanhamento “desde tenra idade” até à idade adulta, promovendo hábitos saudáveis e ter “crianças e jovens com saúde”.

No SOL, uma iniciativa pioneira e única em Portugal, é prestado todo o tipo de assistência ao nível da saúde oral, sendo o objetivo primordial trabalhar na prevenção.

“Mas, infelizmente, ainda temos muitos casos de prevalência de uma das doenças mais comuns na infância, a cárie dentária”, além de um número considerável de alterações ao nível da oclusão, que exigem tratamento ortodôntico.

Segundo André Brandão de Almeida, já foram atribuídos 2.662 aparelhos de ortodontia, a grande maioria gratuitamente, explicando que no caso das famílias com um rendimento maior o seu custo é de 200 euros, valor que pode ser pago faseadamente.

lusa/HN

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