Nuno Marques: “O futuro é prestar cuidados organizados, com as instituições ao serviço das pessoas”

21 de Março 2025

Nuno Marques, especialista em envelhecimento ativo e saudável, destacou no Cascais International Health Forum 2025 a urgência de adaptar o sistema de saúde português ao envelhecimento populacional, propondo soluções integradas e tecnológicas para garantir a sustentabilidade e qualidade dos cuidados.

O envelhecimento da população é uma realidade incontornável em Portugal e em muitos outros países europeus. Nuno Marques, especialista em envelhecimento ativo e saudável, abordou este tema no Cascais International Health Forum 2025, que decorre no Centro de Congressos do Estoril, destacando os desafios e as adaptações necessárias no sistema de saúde para responder a esta transformação demográfica.

Atualmente, Portugal é o segundo país da OCDE com a taxa de dependência mais elevada, com um terço da população idosa a necessitar de cuidados de saúde. A esperança média de vida tem vindo a aumentar, o que é positivo, mas também representa uma pressão significativa sobre o sistema de saúde, especialmente com o crescimento acelerado da população acima dos 80 anos. Este cenário exige uma resposta eficaz e sustentável para garantir a qualidade de vida dos idosos e a viabilidade do sistema de saúde.

Um dos principais problemas identificados por Nuno Marques é a centralização dos cuidados no sistema hospitalar. Em Portugal, os hospitais estão sobrecarregados, com casos que poderiam ser tratados noutros contextos, como nos cuidados de saúde primários ou em casa. Esta sobrecarga hospitalar é agravada por uma falta de integração entre os diferentes níveis de cuidados, o que resulta em ineficiências e em custos elevados.

Para enfrentar estes desafios, Nuno Marques propõe uma abordagem multidisciplinar e integrada, que inclua a utilização estratégica da tecnologia. A hospitalização domiciliária, por exemplo, é uma solução que permite manter os pacientes em casa, reduzindo a pressão sobre os hospitais e melhorando a qualidade de vida dos doentes. Além disso, a tecnologia pode ser usada para otimizar a prevenção e o acompanhamento de doenças crónicas, reduzindo a necessidade de consultas presenciais e libertando recursos para casos mais complexos.

Outro ponto crucial é a necessidade de reforçar os cuidados de saúde primários. Atualmente, mais de metade dos utentes destes cuidados são acompanhados para prevenção, mas há uma iniquidade no acesso a estes serviços, especialmente nas regiões do centro e sul do país. Para resolver este problema, é essencial investir em equipas multidisciplinares e garantir uma distribuição equitativa de recursos.

No que diz respeito aos cuidados de longa duração, Nuno Marques critica a falta de integração entre os diferentes serviços, como lares, cuidados domiciliários e unidades de saúde mental. Em vez de encaixar as pessoas em serviços pré-definidos, defende que o sistema deve adaptar-se às necessidades individuais de cada pessoa, oferecendo um continuum de cuidados que evolua consoante as necessidades.

A integração entre os setores da saúde e social é outra prioridade. Nuno Marques, que é Presidente do Centro Académico Clínico ABC – Algarve Biomedical Center desde a sua criação em 2016 até à atualidade, sugere a criação de uma coordenação nacional que promova a articulação entre estes setores, eliminando silos e garantindo uma resposta mais eficaz e personalizada. Esta integração deve ser acompanhada por uma melhoria nas condições de trabalho dos cuidadores, tanto formais como informais, que desempenham um papel crucial no sistema de cuidados.

Por fim, O especialista enfatizou a importância da prevenção e da educação ao longo da vida. A manutenção da saúde, a identificação precoce de doenças e a adaptação das condições habitacionais são áreas que devem ser prioritárias para garantir um envelhecimento ativo e saudável. A tecnologia pode ser uma aliada neste processo, desde que seja usada ao serviço das pessoas e não como um fim em si mesma.

A concluir a sua intervenção no Estoril, Nuno Marques defendeu que a sustentabilidade do sistema de saúde português passa por uma mudança de paradigma, com maior integração, uso estratégico da tecnologia e foco na prevenção e nos cuidados domiciliários. Estas medidas, afirmou, não só melhorariam a qualidade de vida da população idosa, como também reduziriam os custos e a pressão sobre os hospitais, garantindo um sistema de saúde mais eficiente e equitativo.

HN/MMM

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