Projeto em Coimbra revela ligação entre insucesso académico e saúde mental

24 de Março 2025

Um terço dos jovens que procuraram a Consulta de Psiquiatria do Estudante Universitário em Coimbra tinha reprovado de ano, referiu a coordenadora de um projeto que comemora hoje dez anos e que realizou quase três mil consultas numa década.

O projeto, que resulta de um protocolo entre a Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra e a Universidade, celebra hoje dez anos de existência e realizou 2.784 consultas a 740 estudantes, dos quais 240 tinham reprovado de ano.

Para a coordenadora do projeto, Sofia Morais, o número de estudantes que reprovou pelo menos um ano é um dado relevante e mostra a relação entre saúde mental e sucesso académico.

“Infelizmente, só quando chumbam é que muitos procuram ajuda”, disse à agência Lusa a responsável da iniciativa, considerando que as próprias instituições de ensino superior têm de ter um outro olhar sobre o insucesso.

Segundo Sofia Morais, a relação com a instituição, uma melhoria na cultura de pertença, oferta de atividades extracurriculares ou a criação de horários estruturados que permitam regimes pós-laborais e tempos livres condensados poderiam contribuir para uma melhor saúde mental dos estudantes.

“Não podemos olhar para as reprovações e dizer que é só culpa dos alunos. É preciso perceber porque é que há insucesso e monitorizá-lo”, disse.

Nas quase três mil consultas realizadas ao longo dos últimos dez anos, o projeto registou mais mulheres (64%) do que homens, dois terços estudantes portugueses, e uma prevalência para alunos das faculdades de Ciência e Tecnologia (34%), Letras (23%) e Direito (16%).

A maioria dos alunos que procuraram o serviço estava a frequentar licenciatura (65%) e eram estudantes deslocados (80%).

Segundo a responsável, os diagnósticos mais prevalentes são perturbações depressivas (26,6%), de ansiedade (21,3%) e de personalidade (16,1%).

Cerca de dois terços dos estudantes tiveram consultas de psicologia e 15% não tiveram psicofármacos prescritos (e, dos que têm, metade tem apenas um medicamento prescrito).

Na consulta de psiquiatria do estudante universitário, 67,8% dos estudantes têm consultas de psicologia, sendo a prescrição de psicofármacos reduzida: 15,2% não têm medicamentos prescritos e, dos que têm, 52,6% estão em monoterapia (apenas um fármaco prescrito).

A consulta que foi criada por Sofia Morais, quando ainda era interna, cresceu desde a sua fundação e junta hoje outros médicos psiquiatras da ULS de Coimbra, além de ter uma relação estreita com os psicólogos da Universidade de Coimbra.

O projeto assenta num modelo em que os psicólogos fazem uma triagem, com os casos mais ligeiros a serem observados por medicina geral e familiar, outros por psicologia e apenas os mais graves são acompanhados por psiquiatras.

Mesmo com o crescimento do projeto ao longo desta década, Sofia Morais acredita que as doenças mentais continuam subdiagnosticadas nos jovens, com o projeto a avançar agora com uma campanha de literacia em saúde mental, intitulada OwlMinds, no âmbito da qual decorre hoje, às 19:00, uma edição do programa de rádio Prova Oral, de Fernando Alvim, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV).

lusa/HN

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